segunda-feira, 10 de novembro de 2014

5. O Daniel

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

Tem pessoas com as quais construímos relações densas. Daquelas que são construídas pouco a pouco e tem milhões de detalhes e nuances. Tem aquelas, por outro lado, que são leves. Levíssimas e, de forma nenhuma, vazias. Apenas leves. Fáceis. Daquelas que não exigem muito, que não dão trabalho nenhum, que apenas existe.

Outro dia eu estava quieta no meu canto, pensando na vida, depois de bater papo com um primo meu. Vejam bem, se você chegou agora e pouco sabe sobre a minha família eu vou ilustrar novamente para seu melhor entendimento: Eu tenho 31 primos de primeiro grau, por parte de mãe. 31. Muitos deles, um tanto mais velhos que eu, já começaram a casar e parir por conta, de modo que já tenho uns 10 de segundo grau também. Não sei que ideia vocês fizeram disso, mas eu acho o máximo.

Tem família que se desentende demais. Conheço muitas pessoas que simplesmente não suportam os primos. Eu não sei o que eu faria sem todos os meus. Acho que eles são um meio termo sensacional entre o irmão – aquele que vive na sua casa e você ama, mas te tesa a paciência por excesso de convívio – e o amigo – aquele que você encontra na vida e resolve que é família também. Primos, pra mim, são dádivas. Eles nascem da(s) barriga(s) da(s) sua(s) tia(s) e moram na casa dela(s). Você não tem que dividir mãe – só os avós. Avós são mais tranquilos de serem divididos. O colo deles é sempre infinito.

Primos são, em suma, totalmente diferentes de você - mas vocês sempre carregarão uma origem em comum, o que faz com que nunca se esqueçam de que apesar de diferentes, são impreterivelmente iguais . Eu, como tenho 31 deles e estou bem no meio da muvuca  das idades (o mais velho tem 40, a mais nova 8 meses) já entendi o que é ter primos mais velhos que podem sair quando você não pode, te excluir dos programas e subir no salto para te dar bronca. Entendi também o que é ser o primo mais velho, que exclui os pequenos, dá bronca neles e aperta as bochechas. Quando eu tinha 10 anos, achava muito engraçado o Alex falando assustado que tinha visto minha mãe trocar minhas fraldas e agora eu já estava fazendo provas de matemática. Hoje quem engole o desespero sou eu: adorava pedir para a minha tia me deixar segurar o Guilherme no colo; agora ele tem 14 anos e dá dois de mim na altura.

Com alguns dos meus primos eu converso muito mais. Com outros, muito menos. Mas pelo menos 80% deles renderia assunto para um post. Falei tudo isso aí em cima só pra introduzir a vontade que me deu de vir aqui, aleatoriamente, falar do Daniel. Sim, do Daniel.

O Daniel é filho da irmã gêmea da minha mãe. Ele tem 4 anos a mais que eu e é o irmão mais velho da minha prima-gêmea. Eu dormia na casa dela nas férias e lá estava o Daniel. Acho que foi assim, aos poucos, que ele virou meu ídolo  - e eu nem sei como. O apelido dele, quando criança, era Danifica tudo. Porque ele danificava, sabe. Dava nó em pingo d’água, em português claro. Escondia o controle de televisão do vovô dentro da churrasqueira (só porque sabia que vovô ofereceria 1 real para quem encontrasse o mesmo) e até a geladeira da vovó com super bonder ele colou. Uma vez saiu correndo atrás de mim segurando um garfo e me imprensou na parede. Eu tinha certeza que acabaria morta nesse dia. Daniel se escondia atrás da báscula do banheiro para nos dar susto quando íamos tomar banho. Ele tacou desodorante aerosol no meu machucado uma vez (sim) jurando que ia fazer parar de arder. Lembro da dor até agora.

Mas, de noite, depois que a Rafaela dormia e eu morria de medo de ficar sozinha no quarto escuro ele ia lá dizer que estava tudo bem. Quando eu e ela resolvemos acampar no quarto dele, ele tirou o pôster do Evanescence da parede só porque eu disse que tinha medo da Amy Lee (gente, ela parecia um fantasma naquele pôster, eu juro). E ele sempre, sempre, mas sempre mesmo, dá um jeito de me fazer rir. Contando piadas, inventando histórias, ou mesmo transformando qualquer fato banal em uma cena de comédia fantástica. Eu me acostumei tanto a rir na presença do Dani que hoje em dia ele diz “oi” pra mim e eu começo a gargalhar.

Hoje em dia ele já tomou juízo (tem tempo que não ouço falar de geladeiras com portas coladas), tem um emprego incrível e até casou. Eu encontro com ele uma vez por ano, no Natal, e pra ser sincera a gente mal conversa. Ele está sempre com a esposa e alguns amigos que costuma levar junto, enquanto eu estou sempre caçando sarna com as minhas primas em algum outro canto. Tem no mínimo 5 anos que a gente promete um pro outro uma partida de Master, que ainda não saiu. Basicamente, a gente se diz “oi” e “tchau” uma vez por ano, deu pra notar? E foi por isso que eu fiz um primeiro parágrafo falando de relações que não exigem nada, simplesmente são. Eu gostaria muito – e tenho certeza que ele também – de ver o Dani mais vezes do que vejo. De conversar mais do que converso. Deus sabe como eu gostaria de rir com ele mais vezes do que rio – rir faz um bem danado para a saúde – mas isso não acontece. Tem o tempo, tem a distância, tem a vida, tem o que for. Tem pessoas que a gente ama pela convivência, pelo cuidado diário, pela presença. Tem outras que a gente simplesmente ama pelo que são, pelo que representam, pelas lembranças que nos ajudaram a construir.

Acho que eu nunca falei isso pra ele, mas eu amo o Dani o mesmo tanto que eu amava quando a gente se via mais (olha, talvez até um pouco mais, já que hoje em dia ele não corre atrás de mim com garfos), e acho que posso acreditar que é recíproco. E eu sempre, sempre vou saber que o dia que eu estiver triste eu tenho, a um clique do mouse, alguém que vai me dizer “oi” e me fazer chorar de rir instantaneamente. 

10 comentários:

  1. São 8 horas da manhã, não sei porque raios liguei o computador agora já que eu deveria estar tomando banho para ir para a Faculdade logo mais ...
    Lindo texto Ana! ter primos é realmente uma dádiva.

    ResponderExcluir
  2. Ana, obrigada pelo comentário lá no blog. Fiquei muito feliz de ver você por lá já que vira e mexe eu passo por aqui (mentira, assim que sai post novo já tô devorando ahaha) mas nunca comento porque fico, invariávelmente, com aquela sensação de "afff a mina já disse tudo, vou acrescentar o quê??!" e prefiro não falar nada mesmo. Mas sei que faz bem e incentiva, então vou tentar ser um pouco menos anônima por aqui ...
    ... a começar por esse texto. Eu também tenho muitos primos por parte de mãe que amo com todas as forças do meu ser. E entre eles também tem um Daniel, bem mais velho do que eu, casado, pai daqui a 4 meses, e com quem tenho essa mesma relação : leve. Só que ele nunca tentou me esgarfear ahaha. E eu acho que entendo o que vc quer dizer. Eu sei que, mesmo sendo só aquele "oi" "tchau" uma vez por ano, não tem como ficarmos distantes, não tem como parar de nos preocuparmos um com o outro, não tem como não ter a certeza profunda de que sempre poderei contar com ele em caso de perrengue. Nossos pais fizeram um trabalho maravilhoso !
    Mille bisous pra você :D

    ResponderExcluir
  3. Que post bonito. <3
    Eu tenho vários primos, mas eu não convivo muito com eles, nem converso muito com eles, porque basicamente toda essa parte da família tá em outro estado.
    Acho bonito mas não compreendo muito essa relação porque eu nunca tive ela nessa intensidade.

    Beijos!

    Obs.: sdds da minha época emuxinha-gotheca que fazia COLEÇÃO de posters do Evanescence. Amy Leenda. ♥

    ResponderExcluir
  4. Acho lindo famílias assim, com tanta gente unida. A minha é tão pequena e ninguém se dá bem!
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Amei o texto. Espero que o Daniel tenha oportunidade de lê-lo. Bjs

    ResponderExcluir
  6. Aff chorei aqui.
    Eu tenho muitos primos também, mas todos moram no interior do estado, quase nunca os vejo e tem muita treta familiar na história. Tanto na família por parte de mãe quanto de pai. Mas teu post fez eu lembrar da minha prima Arine. Eu amo ela. E eu amo pelo que ela representou pra mim, assim mesmo no passado, porque há 7 anos eu não falo com ela. Acho que ela não tem nem noção do quanto é importante pra mim. Ela me ensinou a ler e por causa dela sou professora (ela também é e eu era fã numero um) e mais um monte de historinhas importantes que ela faz parte.
    Me deu vontade procurar ela, saber como ta, contar da vida. Sei lá, às vezes a gente tem que deixar as ~tretas~ pra trás, né?
    Te amo!

    ResponderExcluir
  7. Amiga, pra variar a gente em sintonia, né? Eu juro que não tinha visto que tinha pessoa nova por aqui quando postei ontem o texto da minha!

    E que texto lindo <3 Seus posts sobre família sempre me ganham com facilidade, mas acho que esse é o meu favorito, ao menos entre aqueles que eu me lembro. Adorei a forma como você discorreu sobre o relacionamento entre primos, e absolutamente concordei ainda que esse universo seja um pouco distante de mim. Você tem 31 primos de primeiro grau e eu não tenho nem 10, sendo que entre eles eu só dividi minha infância com dois, porque o resto ainda é muito criança. Um deles é o Pedro, meu primo irmão de quem eu falo bastante, mas tem também o Augusto. O Augusto é três anos mais velho que eu e infernizou minha infância e uma boa parte da adolescência. A gente não convivia, a gente brigava - de mão, de grito, até que eu terminasse chorando e ele sendo ameaçado com o cinto furadinho do meu avô. Mas no meio dessas picuinhas algumas raras, raríssimas vezes, a gente conversava. Besteira, sabe, mas a gente podia passar o dia inteiro conversando e eu adorava quando ele conversava comigo, porque eu via que ele era legal, e ele também me fazia rir muito, e ainda faz. Augusto também tomou jeito, e caçou rumo na vida, casou esse ano. Eu chorei desesperadamente no casamento dele e não conseguia acreditar que aquele cara que escondia minhas bonecas e desligava a tv enquanto eu tava assistindo, só pra me irritar, estava CASANDO e tinha se tornado um homem tão bacana. A gente se vê muito pouco também, e conversa quase nunca, mas seu post fez com que eu lembrasse como eu gosto dele e como eu fico feliz de ter dividido minha infância com ele, por mais turbulenta que tenha sido. Pelo menos eu aprendi a bater em menino! hahaha

    beijos
    te amo! <3

    ResponderExcluir
  8. E eu pensando que tinha muitos primos, haha! Mas acho uma delícia ter família grande assim, as comemorações são sempre mais divertidas (assim como o drama, mas isso a gente releva). Adorei seu relato, é muito bom ter com quem compartilhar em um nível tão profundo. Beijo!

    ResponderExcluir
  9. às vezes queria ter mais primos e ter aquela relação louca de amizade com eles. Mas tenho poucos primos e, atualmente, somos tão distantes..

    Adorei o projeto, achei lindíssimo tudo que foi escrito... Acho que todas temos um Daniel para amar nessa vida ♥

    ResponderExcluir
  10. Daniel Bussular Diniz6:28 PM, novembro 17, 2014

    Ver você escrevendo isso me fez chorar.
    Não aquele choro triste por estarmos longe e não conversarmos muito um com o outro (acredite eu queria mesmo conversar mais com você e vou me esforçar pra mudar isso), mas sim um choro de alegria por ver que você, apesar da distância, não se esquece de mim e das minhas bobeiras.
    Eu digo isso pois sofro muito em minha vida pessoal com meu probleminha em “manter contato”. Sou cobrado por amigos frequentemente e isso às vezes desgasta minhas relações.
    Fico frustrado por ser introvertido e quieto no meu canto mas quando li o que você escreveu eu soube que você gosta de mim da mesma forma como eu gosto de você.
    Você é a minha irmã Ana, sempre vai ser, e não pense nem por um segundo que me esqueço de você, é só o meu jeito relaxado mesmo.
    Realmente existem pessoas que nós amamos pelo que elas são.
    Te amo prima.
    E esse ano tem partida de master

    ResponderExcluir