Livremente inspirado nesse blog genial aqui
Quando eu morava em São Paulo e
resolvi que iria fazer unha regularmente, comecei a frequentar o salão da minha
rua. Era um salão minúsculo e ficava somente a alguns 30 passos do meu prédio.
Tinha 2 cabeleireiros e 2 manicures, todos parentes entre si e, aparentemente, o
meu prédio inteiro (de 80 apartamentos) era cliente do lugar.
Foi ali que eu aprendi que
manicure sempre sabe de tudo. Se eu passava 1 hora fazendo unha, era 1 hora que
eu passava descobrindo sobre todos os babados nos quais meus vizinhos estavam
envolvidos e, inocente que era, obviamente contava todos os meus dramas de
adolescentes E confusões com os vizinhos para ela, que com quase toda certeza
passava a ficha completa para a próxima que ocuparia a minha cadeira. O negócio
era tão quente que tinha gente que aparecia sem nem ter unha marcada: só para
fofocar mesmo.
Quando me mudei para
Curitiba, fiquei um tempão sem fazer unha toda semana. Depois acabei conhecendo
uma manicure carioca muito engraçada que me animou, e eu voltei a brincar
disso. E funcionava muito bem quando eu fazia a unha de sexta-feira a tarde, na
minha vida de estudante burguesinha que podia voltar da faculdade e passar a
tarde de pernas para o ar (inclusive, sdds). Depois que eu comecei a trabalhar,
ela acabou mudando de salão. Como eu tinha preguiça de ir ao outro salão, que
era longe, ela se ofereceu para fazer minha unha em casa, nas segundas-feiras,
que é o dia que o salão não abre. O papo não é sobre ela, e por isso acabarei
com esse causo por aqui, contando apenas que não rendeu muito tempo porque
segunda-feira ao meio dia, entre meu horário de faculdade e o de trabalho, eu
morria de sono e não tinha o menor pique para as conversas que a gente batia na
sexta-feira, módisque fui virando uma chata que não sabia conversar e acabamos,
lentamente, desistindo uma da outra. Eu não ligava pra marcar, ela não ligava
pra me lembrar de marcar. Foi bom enquanto durou.
Sem manicure e comendo tudo o que
me restava das unhas (e da dignidade), aprendi a me aventurar no shopping.
Sempre tive preconceito com salão de shopping, mas aquilo só poderia ser o
paraíso. Não precisa marcar hora: é só aparecer. E tem no mínimo umas 30
manicures correndo de um lado para o outro com carrinhos atrás de você,
enquanto você fica sentada bem linda em uma poltroninha macia. E nessas,
fazendo unha cada semana com um ser humano diferente, você aprende que tem
gente que arranca bife e gente que não, gente que pinta certo e gente que não,
gente que é rapidinha e gente que não, e o mais interessante: várias formas
diferentes de convívio social.
Tem as que fazem a sua unha
forçando um papinho tosco com você, tem a que sabe bater um papo legal com
você, tem a que se apresenta e depois não abre a boca, tem que a nem se
apresenta e tampouco abre a boca, e tem a mais irritante, na minha concepção: a
que fica o tempo todo batendo papo com a colega manicure do lado, sobre algum
assunto aleatório, e de vez em quando ainda quer colocar a sua opinião no meio.
Foi assim que eu conheci a manicure que não deixava a filha cortar o cabelo, e
não era nem ela que estava fazendo a minha unha.
Acontece que a moça que estava
fazendo a minha estava a horas num papo com essa outra, papo esse que ia desde cliente que roía até unha de gel (?) até estilos de cabelos, e foi aí que ela
começou a contar que a filha dela, de uns 15 anos, inventou que queria cortar o
cabelo. A mulher estava tão absurdada com a vontade da filha de cortar o cabelo
que isso parecia realmente um crime. E nem era questão de religião, era porque
ela achava feio mesmo. “Pode pintar, pode alisar, pode tudo o que ela quiser,
mas cortar, DEUS ME LIVRE”. A cliente dela perguntou o porquê de tudo isso, mas
ela era tão turrona que o único argumento dela era de que cabelo curto era
horrível e complementou dizendo que uma vez ela própria havia inventado de
cortar e odiado completamente o resultado: “Vai levantar da cadeira do
cabeleireiro, chorar, e não vai ter volta, porque não adianta chorar sobre o
cabelo cortado, ele não volta de novo para a cabeça”.
Na hora não abri a minha boca: se
em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, imagina em briga de mãe e
filha. Agora, minha opinião sincera, e que eu espero que chegue a ela por
telepatia, é: deixa a menina cortar o cabelo, nega, deixa.
Cortar o cabelo é bacana. Muda o
visual. E não gostar do corte faz parte da vida! Já saí chorando algumas vezes
da cadeira do cabeleireiro, estou vivinha da silva e ainda acho que é um enorme
aprendizado. Não se chora o cabelo cortado porque ele não volta para a cabeça,
e quer situação mais apropriada para a gente entender que toda ação tem sua
consequência e que nem sempre ela tem volta? De mais a mais, ficando bom ou
não, sua filha saindo do salão feliz ou não, cabelo cresce de novo! Vou te
dizer mais: Acho que aprender a ser maleável com nosso próprio cabelo é uma
grande lição de como enfrentar os próprios medos, ou você acha que minha perna
não bambeou quando eu sentei na cadeira, em 2012, e disse: “corta chanel”?
Fechei até o olho para não ver o meu cabelo indo para o chão. Quando saí de lá
com a cabeça pensado um tanto menos, pensei que me sentiria nua, mas me senti foi
leve e quase dona do mundo. É uma ótima experiência.
Phoebe aprova esse post
Monica tem lá suas dúvidas
Monica tem lá suas dúvidas
Não entendo todo esse apego com o cabelo... mais cedo ou mais tarde cresce ( o meu cresce em uma velocidade espetacular...) hehehe
ResponderExcluirSou dessas que sempre sai chorando da cadeira, porque nunca fica do jeito que eu esperava: perfeito feito a propaganda de shampoo. Mas nunca deixo de me arriscas - apesar de que já vai fazer um ano que não corto nem as pontinhas e preciso me envergonhar, mascarei salão sexta. A gente tem que aprender a arcar com as consequências das nossas decisões e a de cortar o cabelo, deve ser a primeira da vida. As consequencias podem ser ruins, claro, mas muitas vezes incríveis.
ResponderExcluirPreciso dessa sensação de leveza.Oh God.
Eu lendo seu texto e pensando "mas, gente, ontem mesmo tava de tesoura na mão quase cortando o cabelo todo por conta própria", hahaha. Tô há tempos querendo cortá-lo, mas e o medo de deixá-lo horrível? Tenho mesmo. Nem lembro quando foi a última vez que tive cabelo curto.
ResponderExcluirMas ó, deu um ânimo na minha "coragem capilar" esse teu texto, guria!
Meu Deus, que pessoa louca!
ResponderExcluirFiquei curiosa pra saber o tamanho do cabelo dessa coitada dessa filha. Tenho tanta raiva dessas mães que estendem suas opiniões mega pessoais pros outros. Sempre sobra pros filhos, que não tem muita alternativa se não obedecer. E daí que ela não gosta de cortar o cabelo? Ela que não corte e deixe a filha raspar a cabeça, se quiser. #libertaritória
E esse histórico de manicures me deixou pensando que já tem 8 anos que faço as unhas com a mesma manicure. o.O
Beijos <3
A legenda da foto <33333333
ResponderExcluirGente! É cada coisa, que só rindo! Imagina o tamanho do cabelo dessa menina de 15 anos! E que saco, na fase que está essa menina, não poder cortar o cabelo! Jesus!
ResponderExcluirEu sou filha de cabeleireira, manicure, depiladora, maquiadora... isto, é: aos 14 anos eu estava fazendo luzes no meu cabelo. Por isso, hoje ninguém consegue me imaginar morena. hahaha. Não sei fazer nem uma simples trança sozinha. Não consigo imaginar minha vida, sem minha mãe cuidado da minha beleza! kkkk.
Já tive trauma de cortar o cabelo, já cortei curtinho e gostei, já cortei e odiei... Tudo são fases que a gente passa, mas acho que é essa a ideia que você falou: a gente tem que aprender a ser menos apegada com o cabelo, dá uma sensação ótima de liberdade. Agora, estou num período de querer deixar crescer. Faz tanto tempo que não deixo ele grandão!
ResponderExcluirAdoreeeeeeeeeeei seu post, haha! Me diverti bastante com os tipos de manicure que você pontuou. Pra mim, o pior é tipo é aquela que conversa tanto que se esquece de fazer sua unha. MOÇA, EU SÓ TENHO 1H30 DE ALMOÇO, APRESSA ISSAÍ! hahaha
ResponderExcluirAcho que cortar o cabelo ensina muito à gente sobre a vida. Porque, se você fizer uma cagada feia no cabelo, tudo bem, você vai sofrer por um tempo mas: não é o fim do mundo. O cabelo vai crescer depois. Acho que a gente faz muito drama com o que não precisa e essa mãe não vai conseguir impedir a filha dela de tomar suas próprias decisões pra sempre. Se ela quer fazer uma cagada (ou não, porque ninguém sabe o resultado) deixa. Essa é tranquila e já ensina à ela que nossa vida é feita por nossas escolhas. E nossas escolhas é que dizem se a gente vai ter que pôr um lenço pra esconder o cabelo, quando sair de casa, ou não.
Bjs!
Nunca fiz unha com manicure, acredite se quiser D: geralmente minha mãe faz a minha, senão eu mesma me viro, mas taí um troço que eu morro de preguiça e não faço muita questão.
ResponderExcluirNunca tive apego com cabelo. Já cortei e amei, cortei e quis chorar e assim eu vou, sabe? É tão bom cortar. Eu me prefiro mil vezes de cabelo longo, mas no início do ano cortei curto (depois de uns 3 anos com ele grande) e gente, melhor coisa da vida! Hoje eu já tô deixando crescer, morrendo de saudade daquele cabelo de madalena arrependida, mas foi uma escolha muito acertada, sabe?
Fico imaginando o cabelo dessa menina e sério, se minha imaginação for tal qual a realidade, quero dizer pra mãe dela que mil vezes um cabelo curto bonito do que um longo zoado.
beijo!
E foi assim mesmo, Ana Lu, que eu me senti quando cortei o cabelo: leve e quase dona do mundo. E olha que eu tinha uma trauma gigante de cabelo cortado, chorei na penúltima vez que cortei. Só que hoje eu gostei tanto que nem penso na hipótese de alongar de novo. Aposentei!
ResponderExcluirSó traumas e arrependimento, ainda tenho um sim. É, ela mesma. A franja. Quando temos arrependemos e quando não temos bate a inocente vontade de tê-la. Irônica essa vida, viu?
Beijos! :*