segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre mais uma teoria de caos

Mas cara, foi “só um vírus”, como é que TUDO parou?

Foi essa a pergunta que eu me fiz (ingenuamente) repetidas vezes na cabeça antes de chegar mais ou menos na metade de Estação Onze, da Emily Mandel, indicação da sempre maravilhosa Mimi.

Se você já começou a torcer o seu nariz desde já e pensar que o livro é só mais uma distopia YA sobre o fim do mundo eu vou dizer que sim, é só isso mesmo, se você quiser pensar assim. Não tenho nada a dizer que rebata isso além do fato de que algumas distopias são melhores e mais inteligentes que outras e essa é certamente uma delas.

Na obra de Emily o apocalipse não acontece por tragédias naturais. Não é a água que acaba, nem cai um meteoro, nem os dias de repente começam a ter mais horas do que deviam. O que acontece é um vírus novo, da “gripe da Geórgia”, altamente transmissível e capaz de matar em questão de horas a pessoa infectada. Foi através dessa pandemia incontrolável que a maior parte da população do mundo foi dizimada e tudo deixou de ser como era “antes”. Absolutamente tudo.

Se você está no mesmo barco, se perguntando como é que tudo parou por causa de um vírus, vou elucidar a questão através do texto da Emily e colocar o causo em debate aqui. Se você prefere receber esse soco no estômago apenas enquanto estiver lendo o livro, esse é o momento de parar de ler esse post, ok? Depois não digam que eu não avisei.

“Nós reclamamos de como o mundo moderno é impessoal, mas isso é mentira, era o que lhe parecia; nunca tinha sido impessoal, nem de longe. Sempre houve uma sutil e sólida infraestrutura de gente, todos trabalhando à nossa volta, sem serem notados, e, quando as pessoas param de trabalhar, todo o sistema emperra e para. Ninguém fornece gasolina aos postos de combustível ou aos aeroportos. Os carros ficam parados, abandonados. Os aviões não podem voar. Os caminhões continuam nos pontos de origem. Os alimentos nunca chegam às cidades; os mercados fecham. As lojas ficam trancadas e depois são saqueadas. Ninguém vai trabalhar nas usinas de energia nem nas subestações, ninguém remove as árvores caídas nas fiações de eletricidade.”

Esse foi meu trecho favorito de um livro que me encheu de trechos favoritos. E isso porque a bomba caiu tão grande no meu colo que eu fiquei sem reação e tive que lê-lo pelo menos mais umas três vezes. Pareceu fácil, para você, concluir tudo isso? Pra mim não pareceu. Não  pareceu porque na minha cabeça ainda era só um vírus que tinha matado MUITA gente, mas que poder ele tinha de acabar com a eletricidade? Não pareceu porque aparentemente eu sou mais uma dessas ignorantes que está tão acostumada com as coisas do jeito que são e com essa suposta impessoalidade que nunca fiquei parando para pensar na quantidade de gente que está envolvida com o fato de eu apertar um botão dentro do meu quarto a luz acender ou o fato de eu digitar uma mensagem no celular e minha amiga recebê-la no mesmo segundo.

É sempre uma epifania confusa e exaustiva essa de lembrar que SEMPRE tem pessoas envolvidas em qualquer coisa que a gente queira fazer. Sempre um incomodozinho extra na vida lembrar que se você está curtindo um feriadão no parque ou se divertindo nas suas compras de natal em cima da hora é porque tem uma penca de gente trabalhando para que a montanha russa esteja funcionando e a loja esteja aberta.

Óbvio que tudo acabou quando um vírus detonou a maior parte da população mundial: porque não tinha ninguém vivo para estar por trás de nada – quem sobrou teve que se reinventar para cuidar da própria sobrevivência de uma maneira nunca antes imaginada. Foi a teoria de apocalipse que mais fez sentido na minha cabeça até então, mesmo que eu tenha passado metade o livro sem entender como tudo tinha acontecido.

Além desse cerne da questão a autora ainda aborda temas como o perigo do fanatismo, o que seria o inferno de cada um, o que cada pessoa é capaz ou não de fazer para garantir o seu lado e ainda nos faz queimar o cérebro de tanto pensar se, numa situação dessas, seria melhor não ter conhecido o mundo como era antes ou ter conhecido sim; se no fim das contas é melhor lembrar ou não lembrar. Um dos personagens conclui que quanto mais você lembra, mais você perdeu. Não deixa de ser um apelo verdadeiro. Leiam esse livro, por favor. E venham me contar onde foi que ele pegou mais para vocês.

12 comentários:

  1. Mas já vou marcar aqui no skoob para ler eventualmente. Super me interessei. Adoro distopias, ainda mais as que falam do lado humano - não apenas catastrófico - da coisa.

    Fora que isso de tudo parar por conta de um vírus... bem, não temos algo assim em tamanhas proporções desde a Idade Média, acho, mas os protestos e paralisações que muitos trabalhadores de diversas áreas fazem já nos dão uma boa ideia de como isso seria: terrível.

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  2. Mais um livro pra minha lista, obrigada! Eu tive uma epifania dessas quando eu li As Intermitências da Morte. é tanta informação burocrática que a gente ignora no dia a dia, que faz tudo parecer muito fácil. Alguém aperta um botão lá e transmite luz e etc, é muito complexo, porém necessário. Por isso os livros estão aí, pra da um norte pra gente.
    Bjs!

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  3. Acabei de postar e daí pensei, cá com meus botões, que tudo bem dar uma olhadinha casual no seu blog, assim como quem não quer nada. Vai que a senhorita tinha postado alguma coisa? Risos.

    Eu já tinha ficado bem interessada nesse livro quando você mostrou ele no snap porque, como depois fui te dizer, uma boa capa e um comentário positivo do George R. R. Martin são suficientes pra me fazer comprar uma história, mas eu não esperava que ele fosse tão mais do que uma distopia YA sobre o fim do mundo - bem menos uma questão de achar que uma distopia YA não possa ser inteligente, é só que eu já li e assisti tantas histórias assim que tudo acaba sendo mais do mesmo. Um vírus, o apocalipse, a luta pela sobrevivência. Não é ruim, mas é bom ter uma surpresa ali no meio do caminho. O trecho que você destacou bateu com muita força em mim também, mas fiquei particularmente mexida com o papo sobre perda. Enfim, quero muito ler e ler logo, de preferência.

    te amo muito <3

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  4. E eu achando que era uma história de romance HSUIAHSUIAHSUIHAUSHA

    Amiga, distopias me dão um mal-estar absurdo porque eu sou do tipo de pessoa que pira com coisas pequenas, mas fiquei muito interessada. Queria sair um pouco dessa cerne de distopias que dividem as pessoas em castas. Estação Onze parece uma coisa muito mais palpável depois daquele surto do Ebola e acho que de verdade estou precisando entrar um pouco numa ficção desse tipo.

    E esse trecho do livro foi muito foda. Taí uma coisa que eu também nunca reparei. A gente tá aqui porque um monte de gente trabalhou durou, criou e executou as ideias e só estamos usufruindo. Caramba, tudo funciona por causa de pessoas!!!!111!! Me sinto besta constatando isso agora, mas abriu meus olhos pra enxergar os trabalhadores com mais empatia, sabe?

    Obrigada pela dica. Vou marcar no skoob também.

    Beijo <3

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  5. Nossa, muito amor por livros futurísticos/distópicos. Tá cheio deles por aí sim, e tem uns que você lê e pensa que foi bem desnecessário outra mesma história daquela, mas o gênero em si é muito bom e é melhor ainda quando os autores o reinventam, deixando uma marquinha que gera histórias como essa, que nos fazem pensar "poooooxa, e se fosse verdade?!"

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  6. Cara Aninha! Que massa!
    Com certeza vai entrar na lista dos "vou ler", eu sou muito boa em ignorar esse fato às vezes, mas como sou o bichinho do mato introvertido e chato que sou, sempre fico observando e por já ter estado do lado de quem trabalha pra que todo mundo consiga as compras de última hora não é uma coisa que a gente simplesmente esquece haha

    saudades de ler você menina! Volta!

    beijo

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  7. de fato, essa conclusão é um baita soco no estômago! quero ler com certeza e ver como essa história vai me impactar... ele parece nos levar a uma reflexão muito mais profundo que outras tantas histórias apocalípticas por aí!

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  8. Analu do céu, pulei o post porque pretendo ler e definitivamente não curto spoilers hihi.
    Queria fazer um apelo: volta logo, pelamorrr! Seu blog é um dos meus preferidos, você tem um jeito tão especial de conduzir os assuntos que é tão gostoso de ler e acompanhar seus posts, seja de assuntos cotidianos ou das filosofias de boteco haha
    Sei que isso soa um tanto egoísta, porque você deve ter motivos pessoais para estar sumida. Mas não custa nada eu me manifestar e dizer que espero que as coisas se resolvam pra você, e que volte à ativa em grande estilo porque sentimos muito a sua falta.
    Beijos, (pufavor) continue blogando <33

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  9. Amiga, já amei esse livro. Fiquei morrendo de vontade de ler mas né, nem posso, porque comprar mais livro está fora de questão nesse momento. Eu amo distopias (inclusive amo A Idade dos Milagres que você citou aí hehehe) e tenho certeza absoluta que vou amar esse livro -- mais ainda porque indicação de nossa amiga genia dos livros etc, né. Esse trecho que você colocou realmente um soco no estômago, jamais tinha parado para pensar na coisa dessa forma. Por isso amo tanto os livros.

    Te amo <3

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  10. Amiga, esse livro tá na minha listinha de livros para ir atrás faz um tempinho, e agora fiquei morrendo de vontade de lerrrrrr! Vou baixar!

    Beijos, te amo muito!

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  11. Amiga, caramba! Quero ler esse livro ontem? Amo muito distopias, tenho a sensação de que vou amar essa.
    Mas enfim, a gente vai vivendo a nossa vida sem se dar conta de quantas vidas a gente precisa pra viver a nossa, né?
    Fiquei pensando aqui rapidão desde já. Hahaha
    Te amo!

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  12. Amiga, aquele dia você e Mimi venderam o peixe desse livro muito perfeitamente pra mim, e colocaram não apenas pulgas como cangurus (?) pulando na minha orelha de curiosidade, e achei essa epifania incrível.

    Esses dias me senti muito BURRA, e foi exatamente por esquecer o pequeno detalhe que sempre existem pessoas envolvidas por trás de TUDO que a gente faz e parece ser tão automático. Por causa da greve dos bancos, minha mãe se perguntou se era possível fazer depósitos. Eu, num lapso de alienação, respondi: ué, tem, é só ir no caixa eletrônico. "Sim, mas será que tem gente recolhendo esses envelopes?". Sabe aquele momento que você percebe que NUNCA parou pra pensar que toda vez que você faz um depósito, alguém vai lá no fim do dia, recolhe os envelopes, abre um por um, e administra sei lá o que deve ser administrado pra que o dinheiro entre em caixa e vá pra sua conta ou pra conta do destinatário? Pois é, eu nunca tinha dedicado dois minutos do meu tempo pra pensar sobre isso, pra você ver como são as coisas.

    Enfim, lerei o livro assim que for possível, aí vamos fazer uma reunião e ser muito sociólogas a respeito dele, por favor?
    TE AMO <3

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