sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O final feliz não foi o final

A primeira vez que eu assisti Friends eu era relativamente nova. Devia ter lá meus 15/16 anos e uma fé cega em relações amorosas na ficção que, por sinal, mexiam comigo de uma maneira que não era de Deus. Já passei noites sem dormir nessa vida pela angústia direcionada a um casal de novela que NUNCA ficava junto – e assisti a cena do reencontro vezes a fio para sentir o peito ardendo tudo outra vez. Quem é mais sentimental que eu?

Enfim. Por essas e outras, nada mais óbvio concluir que eu passei, sim, todas as dez temporadas da série comemorando cada cena feliz de Ross & Rachel e ficando contrariadíssima cada vez que eles brigaram. Sempre tive certeza absoluta de que eles eram suas lagostas e que estavam, desde sempre, destinados a ficar juntos no final e eles ficaram. Ficaram?

Essa foi uma pergunta que começou a ecoar de leve na minha cabeça nas vezes em que me aventurei a assistir à série novamente. Calma, não mudei de lado. Apesar de achar o Joey incrível quando ele se apaixonada pela Rachel, nunca seria capaz de torcer para que os dois ficassem juntos de fato. Eu continuo sendo team Ross. Só acho que eles são só mais um casal que a ficção usou para nos ensinar, a duras penas, que nem todo grande amor tem que ser eterno; que nem toda grande paixão funciona, de fato, a longo prazo. Às vezes as pessoas se amam demais, mas não conseguem ficar juntas para sempre porque acaba que quando estão juntas não se gostam tanto assim.

one-day-emma1Um rápido oferecimento de David Nicholls

Ross e Rachel se amam, ao menos diz a lenda. Ele então jura que ama desde muito, desde sempre. Só que todo mundo que já viu a série de cabo a rabo sabe (por mais que seja difícil admitir) que eles se amam mais quando estão separados. Se amam quase que platonicamente. Talvez amem mais a ideia que fazem um do outro do que a realidade. Se doem de amor quando aparece um novo parceiro na vida do outro. Se amam com voracidade no início de cada nova tentativa de ficarem juntos… para rapidamente se desentenderem e alguém concluir, entre trancos e barrancos mais uma vez, que não dá. Talvez eles não tenham reparado nisso, mas a gente reparou.

É por isso que depois de ter assistido inúmeras vezes à Rachel entrar naquela sala dizendo que saiu daquele avião que, mesmo com o coração saindo pela boca, me dá uma sensação de melancolia. Porque eu não consigo mais pensar que FINALMENTE eles ficaram juntos de vez como eu pensava antes. Eu só consigo pensar que eles vão tentar mais uma vez, com mais uma retomada estonteante, e que vai dar merda em questão de dois meses. I can see it hapenning, sabe? A única diferença é que dessa vez foi o fechamento da série e quando eles começaram a arrumar treta pouco depois a gente não podia mais ver. O fato, mais uma vez, é aquele velho conhecido dos amantes da ficção: nunca conseguimos puxar uma cadeira e pegar uma bacia de pipoca para acompanhar o tal do final feliz.

Talvez existam amores que sejam assim mesmo, feitos de grandes momentos e não de grandes histórias; não de grandes continuações. Talvez existam vários casais exatamente como eles: que ficarão dando murros em pontas de facas vezes a fio tentando fazer a coisa funcionar. Talvez até o para sempre deles seja exatamente isso: as tentativas. Ou talvez pouco depois que eles se separarem de novo eles encontrem cada um um novo rumo e remoam até os 100 o fato de se amarem tanto e “não terem dado certo”. Talvez aos 80 eles ainda debatam se estavam on a break, inclusive. Talvez.

16 comentários:

  1. E não é que saiu o post? ahahahahahaha

    Olha, eu também era de torcer pro Ross e pra Rachel, de achar lindo quando dava certo e de morrer de chorar quando ela desiste de ir pra Paris pra tentar com ele mais uma vez, mas, agora, eu acho tudo isso um desperdício e uma sacanagem com a minha paciência. Foi bonito, foi, foi intenso, foi, mas acabou e devia ter parado naquele término super sofrido (choro sempre) no apartamento, depois que ela descobre que ele ~traiu~.

    Odeio pensar que eles ficaram juntos pra terminarem dois meses depois, mas também acho que é verdade. Também acho que eles são o tipo de casal que queria muito dar certo, mas claramente não dá, e essa relação ioiô me deixa bem triste, porque, poxa vida, não era mais fácil se eles simplesmente seguissem cada um o seu caminho? E fico pensando na Emma, que, na minha cabeça, vai ver sempre esse vai-não-vai acontecer, o que não pode ser, de maneira nenhuma, uma coisa positiva.

    Ross e Rachel pra mim não dá. É o tipo de amor que a gente vive e um dia para de viver, obrigatoriamente, porque simplesmente não é certo continuar ali, não tá funcionando, não é pra ser. É o romance que a gente guarda no fundo do coração, numa gaveta só dele, e que pensa que seria muito certo se não fosse tão errado.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Que texto incrível! É legal achar alguém que tem a mesma visão que eu em relação a Rachel e Ross. É óbvio que eles se amam, que são loucos um pelo outro, mas que, mesmo assim, não conseguem fazer dar certo e acho que até hoje estão tentando em meio a idas e vindas.Eu acompanho o relacionamento de um casal muito próximo que é idêntico ao nosso casal da ficção. "Só que todo mundo que já viu a série de cabo a rabo sabe (por mais que seja difícil admitir) que eles se amam mais quando estão separados. Se amam quase que platonicamente." É bem isso mesmo. Fora que nesse tipo de relacionamento, (quase) sempre tem um que ama mais de uma forma tão nítida que chega a não merecer o outro de tão bom que esse um é. Assim como Emma e Dexter. Assim como Rachel e Ross.
    Estou (finalmente) assistindo a série na ordem e, na metade da nona temporada, já estou sentindo a dor que vai ser me despedir dos seis. Meu casal sempre será Chandler e Mônica, porque tenho essa coisa de achar lindo uma amizade que se torna amor. Mas Rachel e Ross são meio que o contrário, o amor que vira amizade, o amor, talvez mais real de todos. O amor que a gente não esquece, ao mesmo tempo em que sabemos que temos na relação essa amizade pra que vamos sempre voltar.
    Adorei!
    Beijo

    www.blogrefugio.com

    ResponderExcluir
  3. Ana, esse é um assunto que mexe muito comigo, porque sempre tive meu lado ultrarromântica que acredita em amores pra vida toda e finais felizes. Mas meio que comecei a rever meus conceitos, sabe? Porque uma vida é muito tempo e muitos relacionamentos que nem duram tanto significam o bastante pra também serem considerados grandes amores, pelo menos eu acho. Sempre tive aquela ideia de que existe uma pessoa perfeita por aí pra todo mundo e que na hora certa essa pessoa aparecerá e me fará feliz para sempre, mas isso meio que acaba com todos os amores anteriores a ele? Quer dizer que todos os relacionamentos que vivi antes não valeram de nada? Eu só tava esperando ESSA pessoa chegar e mudar tudo? Não sei, me soa muito impessoal, insensível, não sei dizer ao certo.
    Dias desses, minha prima me perguntou como andava minha relação com meu ex e afirmei pra ela que achava engraçado conviver com ele hoje sem sentir absolutamente nada que tanto sentia há um tempo atrás e ela comparou isso à mensagem do livro A insustentável leveza do ser: como uma hora as coisas são pesadas e depois se transformam em leves. Mas essa não é justamente a vida? Até porque nós mudamos, crescemos e etc e cada amor que passa pela gente tem um pouco do momento em que estamos e da pessoa que somos.
    Então, hoje, pra mim, é meio ilógico pensar que amor pra ser amor tem que durar pra sempre, tem que ficar velhinho e etc. Por um lado é meio triste pensar desse jeito, porque sempre fomos incentivados a achar a nossa metade da laranja; mas por outro é muito incrível, porque nos dá a oportunidade de amar e nos encontrar no outro inúmeras vezes e de formas diferentes. São construções, todas as relações. Como você disse, tem amores que não são feitos pra durar e acho que eles não deixam de ser amores por isso.

    E sobre Rachel e Ross, eu sempre quis tanto que eles ficassem juntos logo, se resolvessem, mas também tenho essa dúvida que você tem. Me aquece o coração pensar que eles ainda estão juntos, felizes e se amando sempre, mas não tenho absoluta certeza disso. Afinal, assim como um livro, um conto de fadas, a gente não ta ali do lado deles pra saber o que aconteceu depois que a história acabou, né? Vai ver o amor deles seja feitos de momentos assim mesmo.
    Enfim, acho que meu comentário ficou meio grande, mas é que tantas coisas me vêm a mente quando paro pra pensar nesse assunto. E além disso, você ainda falou de friends, ou seja, adorei!
    Beijoss

    ResponderExcluir
  4. Que lindo Aninha! Eu não era a maior fã do Ross quando via Friends assim, picadinho, mas quando peguei a série pra ver linearmente peguei birra dele e não consigo shippar os dois, costumava dizer que preferia o Joey, mas não ia dar certo também... Taí, não consigo imaginar esses dois juntos até hoje também sabia? Nunca tinha parado pra pensar, mas é bem um padrão mesmo né? ;~

    hmm... agora vou ficar pensando nisso também, mas seu texto <3

    beijo!

    ResponderExcluir
  5. Eu, que sempre me envolvo demais com os casais da série que acompanho, que perco noites de sono por causa deles (você não está sozinha, amiga), já fiquei nervosa só com o título desse texto e não me senti muito melhor com essa foto aí de Um Dia (olha que eu nem vi o filme, mas só de lembrar do livro já quero ficar em posição fetal na cama). Sempre assisti Friends no modo randômico, então não posso falar especificamente desse caso. Mas sabe que eu nunca acredito muito em finais felizes? Por mais que termine tudo bem, se pudéssemos ver o que acontece dali em seguida (seja numa semana ou em alguns anos), as coisas não iam ser assim tão felizes o tempo inteiro. Porque não é. A vida não é desse jeito, e tudo, eventualmente, tem um fim - um fim que pode ser traumático ou não, mas que nunca vai ser exatamente feliz. No final, acho que o que sobra são as lembranças do que de bom vivemos ao lado da outra pessoa no melhor estilo o que foi nosso ninguém tasca.

    te amo <3

    ResponderExcluir
  6. Sabe que eu penso a mesma coisa? Não entendi como um final feliz, e sim como mais uma chance, eles não desistindo um do outro. Achei bonito, fiquei feliz pq tbm sou team ross, mas sabe... a gente se acostuma com essa ideia de que amor tem que ser pra sempre e não sabemos lidar com o fato de que as vezes... (clichê alert) é eterno enquanto dura. Por isso mesmo quando há um relacionamento muito bom que se desgasta, temos o costume de insistir e cutucar e mexer na ferida até restarem apenas lembranças dos tempos ruins e os envolvidos se odiarem para sempre, porque não souberam lidar. Seja como for, achei o texto bem relevante e foi legal lembrar disso, porque sim, eu esqueço com frequência que amor não é uma obrigação. É difícil as vezes, sabe. E eu sofro demais com casais de seriados, também. Assiste sense8 pra sofrer comigo, miga! hahahhaha

    ResponderExcluir
  7. Esse tipo de pensamento consegue roubar boas horas do meu sono! Quando começo a pensar nessas coisas que poderia ter sido, sempre me dá um nó. Como boa romântica que sou, sempre torço pelos primeiros amores, sabe, e com Ross e Rachel não poderia ser diferente. Sei que tecnicamente eles não foram os primeiros amores, mas foi o casal que primeiro ficou junto no seriado, então minha torcida sempre foi para que chegassem ao final com suas pendências resolvidas e que ficassem juntos, felizes para sempre.

    Hoje, com outra cabeça, entendo (e concordo) perfeitamente com tudo o que você disse. Às vezes duas pessoas se amam tanto que seria impraticável não ficarem juntas, mas isso nem sempre funciona na dinâmica do dia-a-dia.

    Ah, só discordo de uma pequena coisinha: Joey apaixonado por Rachel. HAHA, achei tão fora da casinha!

    Um beijo! ♥

    ResponderExcluir
  8. Eu estou assistindo Friends inteirinha na ordem certa pela primeira vez (sim!) e tenho que dizer: definitivamente não gosto de Ross e Rachel juntos. Como você disse, eles parecem se amar quando estão separados. Se estão juntos sempre arrumam uma ~desculpa~ pra brigar. E, agora que você disse, consigo imaginar perfeitamente os dois brigando uns 2 meses depois.

    ResponderExcluir
  9. Eu não assisto Friends e nenhum outra série. Sou do time das noveleiras e foi através dessa tag que eu conheci o seu blog. Então, posso dizer que senti a mesma coisa em relação aos casais de Sete Vidas. Não sei se é porque eu não aceitei muito bem nenhum deles, achei que terminou tudo errado, ao contrário do que deveria, mas tava todo mundo ali tão junto, que a qualquer momento poderia dar uma reviravolta, quem foi embora, voltar, e assim seria sempre aquela confusão. Não sei...
    Mas acho que quando se acredita de verdade numa história, enquanto o coração pedir pra tentar de novo, é sempre válido! :)

    Beijinhos! =*
    http://misscrazyy.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  10. Antes de mais nada, uma confissão: eu nunca assisti Friends além do pilot. Mas seu post me fez lembrar outra série quando você fala sobre a gente não poder ver o que acontece depois e se tem uma série que eu super quis saber o que acontece depois (e que não diz pra gente que foi aquilo e depois mais nada mesmo) é My Mad Fat Diary. Primeiro porque saber sobre o resto da vida daquelas pessoas estaria ótimo pra mim, segundo porque meu otp, gente: será que era aquilo mesmo, não muda algo depois?? (mas apesar de eu querer muito saber o que vem depois, a série pra mim teve um ótimo desfecho).

    ResponderExcluir
  11. Certa vez li uma frase que dizia: não é o amor que sustenta um relacionamento, mas o modo de se relacionar. Não falta amor a Ross e Rachel, mas as conjunturas mais diversas da vida mostraram que o modo de se relacionar dos dois ainda carecia de muito ajuste.

    Friends, como sempre, dando valiosas lições para a vida.
    MVCEE, como sempre, fazendo o mesmo.

    =)

    ResponderExcluir
  12. "Talvez amem mais a ideia que fazem um do outro do que a realidade."- acho que esse é o cerne da questão.
    As pessoas amam uma versão idealizada das outras, muitas vezes.
    Nunca acompanhei Friends, mas sei do que você está falando, de outros exemplos no mundo da ficção e de exemplos reais no mundo real.
    Eu tenho essa amiga que se apaixona de vez em quando, mas ela se apaixona até a coisa ser recíproca. Se o cara vira e fala "ok, vamos sair, onde e quando?" - ela encontra um jeito de fugir.
    O que é isso? Insegurança? Compromissofobia? Ou é só o medo de chegar lá na hora e ver que a pessoa não era porra nenhuma do que vc imaginou?
    Não dá pra julgar.

    E sim, o cinema (seja ele em séries ou filmes) nos deixa com essa sensação as vezes: E daí, e agora? O que acontece depois que as letrinhas dos créditos começam a subir? Muitas vezes dá pra imaginar.
    "Talvez existam amores que sejam assim mesmo, feitos de grandes momentos e não de grandes histórias; não de grandes continuações." - É.Talvez existam mesmo.

    ResponderExcluir
  13. Oi miga <3
    Olha que coisa, tô viva! :)
    Acho que já te contei que nunca havia visto Friends certinho. Não tinha tv a cabo até os 19 anos e quando tive, pescava um episódio aqui e ali. Agora, NetFlix maravilhoso colocou todas as temporadas e estou feliz da vida na SEGUNDA, ainda.
    Estou na lenga lenga da Rachel descobrir que Ross amava ela e que agora ama a Julie e ela fica tentando lidar com isso. Nem acredito que ainda faltam 8 temporadas pra eu parar de sofrer angustiada com isso.
    Dei uma pausa nas maratonas para: Desperete Housewives. Me julgue.
    se não viu, tem um casal lá exatamente assim: ficam dando murro em ponta de faca e brigando e arrancando meu coração fora. Não vejo a hora de ter a cena da reconciliação final e se não tiver, vou ficar muito abalada.

    Amor e amar são umas coisas muito loucas. Já acreditei que só amaria uma vez na vida, de verdade. E toda vez eu acho que é de verdade (AGORA PRINCIPALMENTE). Mas isso não diminui os momentos que vieram antes, que talvez tenham servido para eu reconhecer tudo que eu amaria no cara que eu queria me casar. Sei lá.
    Talvez sejam chances. Talvez devamos insistir nalgumas pessoas e outras apenas deixar passar. Difícil é saber tomar a decisão certa. Ou tomarem por nós.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  14. Oi, miga, voltei. Acho que você está muito certa em tudo o que você falou. Os únicos finais que são realmente finais são aqueles em que pelo menos uma das partes morre, nos outros o que a gente vê é só um ponto alto (ou, eventualmente, baixo). Depois disso vem a vida, e na vida sempre existem brigas, desentendimentos, partes ruins. Acontece. Não existe felizes para sempre, existe felizes na maior parte do tempo. Esse é o melhor que a gente pode esperar para Ross e Rachel, e eu concordo com você que o "fim" deles provavelmente foi só mais um recomeço como todos os anteriores.

    Te amo <3

    ResponderExcluir
  15. Não assistia Friends, mas deu pra entender perfeitamente o que você quis dizer e concordo plenamente. Quando era mais nova, eu sempre acreditava 100% no final feliz do casal que brigou horrores a história toda quando a novela/filme/livro/etc acabava. Mas hoje em dia tenho minhas dúvidas. Será que o final feliz foi mesmo o final feliz? Sei lá. Talvez não, mas é como você disse: "Talvez existam amores que sejam assim mesmo, feitos de grandes momentos e não de grandes histórias; não de grandes continuações." ;)

    ResponderExcluir