quarta-feira, 17 de junho de 2015

Perdoa-me por me traíres

Eu comecei esse blog aqui quando eu tinha 16 anos nas costas. Antes disso, passei divertidos 4 anos no anonimato, onde eu apenas lia blogs dos outros. Era uma tarefa diária, sabe. Eu tinha uma lista de mais de 100 no meu bloco de notas e todo santo dia fazia a ronda em todos eles. Entrava em parafuso quando os meus favoritos começavam a ficar tempo demais sem postar. Blogueiro legal devia ser obrigado a postar todo dia, eu pensava.

Aí eu inventei de criar o meu blog e o cuspe, ele segue insistindo em cair na testa porque, vejam só, 9 longos dias se passaram sem que eu desse as caras por aqui. Não sei se alguém sente falta, se algum fã anônimo torce para que eu poste todo dia e fica frustradíssimo do outro lado da tela querendo me demitir por abandono de cargo, não sei. Só sei que ninguém, jamais, se sentirá tão irritado quanto eu mesma se meu blog estiver entregue às traças. Cada dia sem post se transforma em uma noite onde eu deito para dormir com peso na consciência e aquela pergunta que não se cala "será que eu não consigo mais escrever, meu Deus? Será que não vou conseguir atualizar o blog nunca mais?" e a vida segue assim há quase 7 anos. 

E toda essa introdução aleatória foi só mais uma daquelas que não tem nada a ver com o post, só para distrair todo mundo do assunto verdadeiro. Então, na verdade eu estava cá incomodadíssima das ideias com a falta de ideias quando resolvi parar de enrolar e fazer, quem sabe, uma resenha sobre o último livro que li. Pensei nas batalhas que travei com ele. Pensei que de vez em quando é interessante abrir uma página em branco para descer lenha em alguma coisa, por mais que eu prefira escrever sobre o que amo. Pensei, pensei, pensei, e acabei aqui, onde continuo pensando.

Deixa eu contextualizar para vocês: eu tava afiadinha na literatura esse ano, sabem? Beirando os 20 lidos faltando 1 mês e meio para a chegada do segundo semestre, tava tudo indo muito bem obrigada. Acontece que geralmente aparece um MAS no meio das histórias de amor (?) e o MAS da minha plena relação literária em 2015 veio no meio de maio e se chama "Na Praia", de Ian McGregor McEwan.

Vejam bem, eu fiquei uns 4 anos prometendo para mim mesma que esse ano eu leio Reparação. E era sempre a mesma coisa. O ano virava e o livro continuava lá na parte das metas do Skoob. Eu olhava para ele e chegava a me dar comichão, sabe assim? Aí ao invés de resolver a pendência eu fingia que nem era comigo e comprava outra coisa. Assim foi até o momento em que dei de cara com ele em promoção na internet e pensei É AGORA OU VAI OU RACHA VEM NI MIM MCGREGOR MCEWAN e pronto, malfeito feito. Li o livro. Amei o livro. Gritei pro mundo. Mandei todo mundo ler. Essas coisas.

Fiquei com tanta vergonha de ter procrastinado tanto essa leitura que resolvi que o migo Ian merecia mais da minha parte, e foi assim que acho que fui com sede demais ao pote de um de seus outros livros e, com o perdão do trocadilho infame que estou prestes a fazer, morri "Na Praia" (badunts).

Olha, se alguém aqui me segue no snapchat (#jabá: analubussular) percebeu que a guerra foi feia. Eu fiquei praticamente 1 mês brigando com esse livrinho de CENTO E VINTE E OITO míseras (e enfadonhas) páginas. A sensação que eu tinha é de que eu lia. Lia. Lia. E o livro não acabava. Mas a sensação estava errada, porque na verdade eu não lia mesmo. Eu pegava o coitado, passava o olho em duas páginas, concluía que preferia estar morta e desistia da brincadeira mais uma vez. Foi dessa forma que passei a segunda metade de maio e a primeira de junho encalhada nas areias da literatura: por culpa de uma praia entendiante que peguei. Enquanto isso, óbvio, na vida real estava rolando uma das melhores praias da minha vida (gente, Fortaleza, anotem, comprem passagem, se mudem pra lá agora), mas isso não vem ao caso.

Então. Depois de tanto brigar com o tal do livro eu resolvi que seria justo fazer uma resenha daquelas irritadas, falando com bastante coerência e maturidade sobre tudo o que me incomodou. Sobre as idas e vindas, sobre a narrativa lenta, sobre a falta de clímax, sobre a resolução mal feita, enfim. No meio disso tudo, eu ainda pretendia dizer que Ian tinha quebrado de forma totalmente deselegante aquela promessa inviolável que um autor cria conosco quando temos vontade de casar em Vegas com a primeira obra que conhecemos do mesmo. Ian, por que?

Só que aí eu lembrei que adoro dramatizar as situações quando consigo, e antes mesmo de começar o texto fui matutar sobre um título que falasse sobre essa quebra de promessas. Concluí que talvez pudesse ser considerado até uma traição, sabe? Como assim você me dá um beijo daqueles, Ian, e em nosso segundo encontro vem com tapinha nas costas? Me senti iludida e traída, esse talvez fosse um bom ponto de partida para a resenha. Até que lembrei também que, como já disse Renato Russo, às vezes o que foi prometido ninguém prometeu, sabe? E que não era porque eu tinha amado tanto um livro do Ian que ele tinha obrigação de que todos os outros fossem à (minha) altura. 

Sabe aquela frase que o mundo vive querendo fazer a gente lembrar, aquela que diz que a expectativa é a mãe da merda? Então. É aquele pensamento martelante de que as expectativas que a gente põe sobre as coisas ou pessoas dizem muito mais sobre nós mesmos do que sobre elas de fato, né? Então. Foi por isso que antes mesmo de postar eu fui obrigada a concluir o óbvio e mudar totalmente o rumo desse texto. Achei o livro ruim e chato e isso é única e exclusivamente um problema meu. Ian não me prometeu nada com aquele primeiro beijo - a culpa foi toda minha que comecei a testar nossos sobrenomes e me imaginar vestida de noiva. Resumo da ópera (ou da pior resenha que essa internet já viu): fui de Nelson Rodrigues no título mesmo porque acho esse título foda achei que Ian merecia ouvir meu pedido de desculpas. Fiz um escarcéu mental e tanto, expus o coitado em praça pública, reclamei de uma grande traição e... foi tudo culpa minha. Fui que me iludi; eu que provoquei a suposta traição. Às vezes, um beijo é só um beijo mesmo. 

Gabriel García Marquez disse uma vez por aí que se recusava a admitir que a vida por vezes parecesse tanto a má literatura. Às vezes sou eu que custo a aceitar que as as desventuras de uma rotina literária acabam por se parecer tanto ao desenho da vida real. Se a gente para demais para pensar, tudo nesse mundo pode ser considerado metáfora, no fim das contas.

12 comentários:

  1. Miga, juro por deus que fiquei com medo de chegar aqui e encontrar realmente algo tosco e ser obrigada a voltar lá e te fazer despostar agora, porque ia me matar fazer isso. Eu sabia que era impossível, mas foi tanta cena que valha-me deus. Agora só quero socar sua carinha linda no chapisco pelos cabelos brancos que me causaste à toa.

    Fico muito chateada quando crio uma expectativa grande para alguma coisa, e acabo dando de cara no muro, mas concordo muito contigo: eles nunca nos prometeram nada, a culpa do peso da expectativa é de quem cria, e não do outro. Paciência, tem outros livros do Ian. Se não der certo, tem outros Ian no mundo. Se ainda não der certo, tem outros autor com outros nome. Paciência. É vida que segue e essa filosofia serve pra tudo nessa vida.

    Te amo muito e obrigada por ser maravilhosa <3

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  2. Fã anônima que estava torcendo por textos voltarem e que vai te seguir no snap agorinha!!

    ���� estava liiiiiiinda nas fotos do casamento!

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  3. Incrível como você sempre escreve algo que bate com algo que estou vivendo. Eu também fiquei afastada o blog por um tempo, mas em meu caso, foram mais de 10 dias. Eu também não sei se alguém se importou com isso, mas eu com certeza odiei, ainda mais porque eu queria postar, só não sabia o que, haha.

    Quanto ao livro, eu tive uma experiencia parecida ainda agora. Peguei pra ler A Teoria de Tudo, e criei expectativas enormes acerca dele, primeiro porque já havia visto o filme e tinha amado, e depois porque caramba, era os "bastidores" da vida de Stephen Hawking... Mas a leitura foi frustante, exatamente como você disse, eu tinha a impressão que lia e lia, mas não saia do lugar, e as vezes, realmente preferia estar morta do que continuar com a atividade. Até que enfim, quando não aguentava mais ter minha vida empacada por aquela leitura, resolvi pegar um dia pra ler "direito", e aí sim, peguei o tranco do livro e acabei gostando, e finalmente consegui finalizar. Assim como Ian te decepcionou, Jane me decepcionou, mas tudo bem, a culpa é nossa e dessa mania chata de esperar demais das coisas, logo eu, que sou tão pessimista.

    Beijos <3

    Desfocando Ideias

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  4. Analu, eu sou uma das (porque obviamente há de-ze-nas de outras) fãs anônimas que espera todas as noites por um texto seu — aliás, não tão anônima, eu não faço questão de disfarçar que esse é o melhor blog do mundo, tô jogando no ventilador mesmo. ❤ Passei essa semana indo e voltando por aqui, como quando você sabe que não vai encontrar sorvete na geladeira, mas continua abrindo a porta porque... vai que tem. De qualquer forma, os deuses sabem como eu me identifico com a situação pelo seu ponto de vista. Todas nós já estivemos nesse lugar e continuaremos estando, porque é assim que a vida blogueira acontece, um eterno ciclo de questionarmos à nós mesmas se a gente desaprendeu a escrever. Porém jamais desaprenderemos, nem mesmo se nós quiséssemos.

    Quanto ao livro, vou parabenizá-la por admitir que a relação não estava funcionando. Eu estou em um relacionamento com Morte Súbita da J. K. Rowling que já não tem mais paixão, mas que sou orgulhosa demais pra abrir mão. Eu continuo aqui, pacientemente na página 155 com a falsa esperança de que esse amor volte a florir, mas lá no fundo eu sei que está na hora de seguirmos nossos caminhos diferentes. Ah... como dói trair assim um grande amor literário.

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  5. Mas amiga... eu estranho MUITO abrir o chrome todo dia e não ter pelo menos um post no icone do bloglovin vindo de você viu? Então trate de arrumar assunto pra postar aqui porque sentimos falta sim u.u /HUNF

    TAMBÉM SEMPRE PENSO IAN MCGREGOR SEMPRE QUE VEJO O NOME DESSE INFELIZ NA ESTANTE hahahahaahahah e quero ler algo dele agora, mas eu já tenho tantos zillhões de livros pra ler e eu fico comprando mais e SOCORR, inclusive ainda não terminei de ler 1Q84 sabia?

    Mas eu te entendo, eu li O Grand Gatsby do Fitzgerald e achei GENIAL, aí comprei "este lado do paraíso" dele... se eu li 25 páginas até agora foi muito, porque HORRÍVEL E MUITO CHATO MEU DEUS, mas fazer o que né? É a vida!

    Beijo Nalu!

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  6. Analu, sou uma dessas pessoas anomias que acompanha seu blog, não me manifesto e fico preocupada quando vc demora de postar! haha
    Quando comecei a ler este texto achei que vc estava comunicando uma pausa no blog e ja comecei a ficar preocupada pq acompanho ele desde o ano passado, assim como o da anna vitoria e o da fernanda Mene (que por sinal entrou em pausa :/)
    Foi inspirada em vcs que resolvi criar um blog, mas ainda não tive coragem de postar nada! hauauhau
    enfim, só passei pra te responder mesmo! E com certeza tem outros anomios que acompanham seu blog, ou seja, sempre terá alguem lendo ele :)
    beijos

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  7. Nossa, felicidade total quando vi que tinha post. Não demore tanto, não quero demissões.
    Assim como você estou anônima e também leio a um delicioso tempo alguns blogs "da Máfia" <3. Fico preocupada quando não postam.

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  8. Nunca vou entender essa gente (tipo você) que lê livro ruim! Eu leio um capítulo...se for ruim eu dou mais uma chance e leio o segundo...se for ruim: tchau e bença filho, tu vai pro Mercado Livre e pra lista de trocas do Skoob! Não consigo ficar presa a livros ruins. Como diria a pensadora contemporânea Gabriela Irala: a vida é muito curta pra ler livro ruim!!! Portanto, você já deveria ter jogado essa praia pra longe há muito tempo amiga! Inclusive porque não enterrou o bicho nas areias da paraia de Fortaleza??? Ahahaha!

    E sim...o único Ian possível no mundo é o McGregor!!!! <3

    Te amo! Beijos

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  9. Guria, não sei que ruim que deu na vida esses últimos tempos, mas você, as demais meninas da Máfia (que eu acompanho) e uma quantidade louca de outros bloggers que eu sigo simplesmente não postou! E eu aqui, abrindo e atualizando página, pensando que não é possível que tenha dado pane no mundo e vocês tenham parado todos juntos, que que eu vou fazer agora, etc. Deu até um alívio quando eu vi que tinha post novo pra ler, embora eu seja a última pessoa do mundo que pode reclamar de alguma coisa, porque de blog abandonado eu entendo (muito, rs). Enfim: come back, be here.

    Sobre o livro ruim: olha, eu não tenho paciência. Eu abandono o livro assim que ele começa a me encher o saco, e só não me desfaço porque acredito muito que tudo é época, tudo é vibe. Se eu odeio muito uma história que eu acreditei que fosse amar, é porque eu tô lendo na hora errada. Tô há mais de ano lendo O Corcunda de Notre Dame porque eu morro de amores pela história, mas não consigo avançar no livro. Perdi uns bons meses de leitura rápida presa numa torre com o Victor Hugo, e só agora é que peguei (pela quarta vez) e tô conseguindo terminar, grazadeus. Nesse mesmo esquema "amei tanto tal autor que preciso ler outra coisa dele", eu conheci e adorei um moço chamado Guillaume Musso no primeiro livro (A Garota de Papel), mas desejei imensamente estar morta no segundo (O Chamado do Anjo) e foi assim que a nossa relação começou e acabou logo depois. Acho que isso de criar expectativas com um livro é bem ruim, assim como criar expectativas com qualquer outra coisa é, mas melhor uma meta de leitura um pouquinho atrasada que uma decepção gigante com um ser humano tangível. ahahaha

    Beijo!

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  10. Eu tb sofro disso, de "não postei no blog: não sei mais escrever", haha. Amei esse post, sério, amei como você levou ele até o final, as comparações que fez, muito divertido, apesar de falar de uma decepção literária, o que costuma ser meio traumatizante.

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  11. Miga, odeio quando cê cita um texto seu e eu corro pra vir ver e descubro que já havia lido e não tinha te mimado.
    Provavelmente no fim da leitura corri pro skoob ou pralgum site em busca do livro - que você já tinha me indicado - e esqueci de comentar. Certeza que eu li. Enfim.

    Lembra que eu falei que sexta fui te stalkear no YT em busca de um nome dum livro?
    Era Reparação. Achei. Encontrei. Tá no celular já porque comprar não podemos, fizemos promessa (mas o seu assim que cair um $ vou comprar daquele jeito que combinamos <3 )

    Eu odeio outra coisa também: criar situações e expectativas.
    Todo dia me sinto traída por alguma delas e é tudo coisa da minha cabeça e ninguém tem nada com isso.
    Estou enfrentando a pior ressaca literária da história e corri pra ler o sexto da Julia Quinn porque ela me salvaria - expectativas - e tô há uma semana lendo e nem na página cem cheguei. Culpa dela? Minha claro. :/
    Tenho certeza que o livro é bom mas, ando tão preocupada com as coisas de vida adulta (emprego que tenho só até o fim do mês, mestrado que comecei e provavelmente sou a pior da turma, as roupas que deixei acumular em casa, o cartão de vacina do Macgyver que eu sumi, etc) que nenhum livro tá me pegando. Mas é culpa minha. Aff.

    Cê arrasou muito nessa PIOR resenha e eu AMEI demais tudo que cê disse. Só assino embaixo.

    <3

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  12. Ah, sobre ficar dias sem postar: sou a pior blogayra do universo.
    Esse beda tá servindo pra me mostrar que é uma delícia escrever sobre qualquer coisa que me dá na telha, porque o blogue é meu mesmo e posso encher de meme, de Disney e de desabafos sem sentido.

    É isso. Acho.

    Se lembrar de mais alguma coisa eu volto.

    Tá bem? Então tá bem. :))

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