Foi o que pensei, sorrindo, sexta-feira às 18h enquanto arrastava o dedo pela timeline do facebook e curtia milhões de fotos de perfil coloridas. Pode ser só mais uma "bobagem de internet", que um monte de gente faz no automático sem nem pensar a respeito? Pode. Pode ser um antro de hipocrisia no qual vários preconceituosos aproveitaram a chance de fazer bonitinho nas redes sabendo que não fazem bonitinho na vida? Pode. Existem questões mais importantes no mundo contra as quais se lutar, tipo a fome? Talvez. Mas o câncer do vizinho não cura nosso resfriado, lembra?
Uma vez, lá pelos idos de 2010, eu sentei no computador para fazer um post para o meu blog falando sobre "essa polêmica de gays" (?). Lembro pouquíssimo do que escrevi na época; lembro nitidamente de ter apagado antes de publicar por medo do que "os outros" (??) iam pensar se me vissem defendendo a causa (???) tão publicamente assim. Hoje eu fico me perguntando quem diabos são esses tais outros, e dou risada ainda pensando que minha preocupação com o que eles pensam é tão legítima quanto meu medo de ter um filho gay: igual a 0.
Porque é sempre esse o argumento que "os outros" usam, né? Que é muito legal e tranquilo ~defender a causa~ até que de repente acontece na sua família. A velha história do "não tenho nada contra, tenho até amigos que são". Tudo isso me faz franzir a testa e coçar a cabeça, concentradíssima, olhando para o horizonte e pensando MAS POR QUE.
É. Por que. Por que, gente? Por que galera foi condicionada a gastar a cabeça com preocupações do tipo "ter um filho gay" enquanto podia estar dormindo tranquila? Porque o ser humano tem mania de complicar o que devia ser muito mais fácil? Não dá para entender. Duas pessoas que se amam devem ter o direito de ficar juntas, pronto. Ninguém é melhor e nem pior por isso. Ninguém é mais ou menos íntegro ou bem sucedido por isso. A matemática é tão pura e simples que a gente se sente meio patético em tentar falar sobre o assunto. Estou me sentindo bem patética agora, inclusive.
Fico pensando que há não muito tempo era considerado polêmico um negro e um branco se casarem e hoje é completamente ridículo cogitar a hipótese de isso ter gerado dor de cabeça um dia. Torço para que na geração dos meus filhos eles fiquem chocados ao descobrir que precisou de tanta luta.
Sobre quem prefere não se envolver citando o argumento de que "tem problemas muito maiores tipo a fome e a violência"? Assino embaixo de um pedaço dessa conversa. Tem problemas realmente cabulosos no mundo a serem resolvidos e isso é só mais uma razão para pararem de implicar com o amor dos outros e cancelarem a discussão da pauta. Pode se amar quem quiser se amar, pode casar quem quiser casar, implicar com o amor não vai levar ninguém a lugar nenhum, deixem de lenga lenga, próximo assunto por favor. Não tem absolutamente nenhum cabimento o amor dos outros ser incômodo na vida de alguém.
26 de junho de 2015. Pode ter sido um dia comum. Pode ter sido só o fato de os Estados Unidos ter legitimado o "casamento gay" (e coloco assim, entre aspas, porque não entendo a necessidade da denominação; casamento é casamento, não precisa especificar, aceita que dói menos, galera). Pode ter sido só um bando de Maria vai com as outras colocando filtro de arco íris nas fotos do facebook. Mas foi mais um dia onde a humanidade deu um passinho importante para a frente, e isso sempre me faz pensar que é um belo dia para se estar vivo. O dia em que ficar todo mundo parado para sempre, usando preconceito como escudo e se assumindo incapaz de evoluir, nesse dia eu pedirei para pararem o mundo que eu prefiro descer logo de uma vez.