Entre palcos

Quando eu comecei a fazer aulas de teatro pela primeira vez aos 16 anos eu juro que não tinha noção da proporção que essa simples decisão ia tomar na minha vida. O professor brincou logo na primeira aula que quando o bichinho do teatro te morde você nunca mais volta a ser o mesmo. Eu nem prestei atenção nisso. Imagine que eu, que na primeira aula quase saí correndo porta a fora com a simples menção das palavras: subir e palco colocadas na mesma frase.

Um ano de aula passou que eu nem percebi. No dia da minha primeira peça eu pensei que eu ia infartar. E pra falar a verdade, isso não mudou muito. Sempre penso que vou infartar antes de entrar em cena. Mas vejam bem, estou viva até hoje, a caminho da minha 4ª peça.

E aquele bichinho que me mordeu lá nas primeiras aulas realmente me deixou uma sequela. Uma sequela, ao meu ver, deliciosa e extremamente produtiva. Que me faz sair feliz do trabalho às 18h de um dia curitibanoo congelante só para me enfiar dentro do Cena Hum e ter mais uma aula de teatro.

Esse semestre foi uma coisa meio bagunçada, porque né, eu comecei de terça e quinta a tarde com a minha turma do semestre passado, consegui um estágio, e pluft, mudei pra turma de teatro da noite.

Era uma quarta feira. Cheguei na escola quase chorando. Abri o portão quase chorando, entrei na escola e quase desmontei. Sabe por que? Simplesmente porque não parecia o mesmo lugar.

Minha escola de teatro virou minha segunda casa desde o meu primeiro dia de aula lá, em agosto do ano passado. Eu chegava lá tagarelando, abraçando e pulando. E de repente entrei lá numa quarta feira a noite, numa escola LOTADA de alunos que eu só conhecia dos palcos (porque outra parte deliciosa é ver as peças de todos, tem tanta coisa legal gente…). O fofo do Humberto (coordenador) veio me abraçar e falar que ia ficar tudo bem. O George (diretor) também. E a Gab (minha professora do primeiro semestre) também. E ela gritou: Você vai amar sua aula nova, sua professora é fantástica.

Devo ter parecido muito esquisita na primeira aula, porque eu parecia um ratinho acuado no meio de uma sala com mais 13 pessoas. Mas eu sou um ratinho acuado de vez enquando, o que contraria a versão da Rê de que eu sou uma pessoa extremamente popular, hahaha.

Mas aí as coisas começaram a fluir, e a professora, que como já havia dito a Gab, é realmente fantástica. E me abraçou tanto no primeiro dia (já falei que sou viciada em abraços?) que eu vi que podia dar certo essa brincadeira.

{Hoje a única coisa que me tira do sério é que desde que eu conheci mais sobre os professores da escola que eu tenho vontade de ter aulas com a Simone e com a Airen. E aí.. eu tive aula com as 2. No mesmo semestre. Pô produção, não queria dividir as aulas com elas, queria um semestre inteiro com cada uma, favor providenciarem, HAHAHA.}

Aí aqui estou eu. Apaixonada pela minha peça, trabalhando loucamente para montar uma Clara que seja à altura da imaginada pela Airen, comprando livro pra me inteirar mais do assunto, querendo que a aula dure até à meia noite, dando o texto sozinha enquanto ando do ponto de ônibus até o trabalho.. (louca).

Hoje eu dei uns cochilinhos esporádicos. Sonhei com o teatro em todos eles. Aí estou aqui de noite, coberta, com lençol térmico ligado no máximo, depois de um banho pelando, e fico pensando: Ah, que cama que nada, queria estar no teatro ensaiando, quem se importa com o frio?

Aí pensei na hora: Gente, deve ser doença isso. Tô viciada nesse teatro.

Mais alguns minutos e pensei: Não é doença coisa nenhuma. É paixão. E é tão, mas TÃO bom fazer alguma coisa pela qual você é apaixonada.. Podia viver o resto da vida assim, de um palco a outro, deixando passar por mim muita coisa que o público precisa saber. Porque é bem assim que funciona. Nos transformamos para passar alguma mensagem.

Como costuma dizer a nossa amada tia Airen depois de cada aquecimento: “Peguem vossos textos e me contem uma história.”

Eu estou amando participar dessa, e só consigo pensar que quero fazê-la para sempre. Enquanto penso, ao mesmo tempo: Que venham muitas, muitas outras!

“Aqueles que amam o que fazem são geralmente aqueles que fazem o que amam.”