Parte 3: O dia em que eu fui pedida em casamento pelo Tinder
Com o match do meu (até então futuro) mocinho em mãos (e mais uns dois ou três sem importância), eu e as meninas acabamos desencanando do momento e largando o aplicativo para foliar de outras maneiras. Fomos comer hambúrguer, falamos da vida e depois continuamos comendo jujuba e rolando de rir no chão do quarto. Dormimos.
Quando eu acordei, um dos outros matchs tinha me dado bom dia. Respondi e, confesso, acabamos papeando por uma boa parte do dia. Era um papo normal com aquelas dosezinhas de paquera perdida de um lado para o outro. Passarinha estava no trabalho, sendo atualizada de cada passo. O engraçado era que ela sabia desde antes de mim que não era ali a graça, porque insistia em repetir: - Tá bom amiga, tá legalzinho esse papo mas vai falar com o outro, vai. Ele é de humanas.
Eu, que com nem um pouco de orgulho assumo que não sou do time das que tomam atitude, só respondia para ela que não ia falar com ninguém, que se o cara de humanas quisesse ele viria falar comigo. Eram mais ou menos 17h quando, do nada, a janelinha do aplicativo piscou de novo. Era o cara de humanas e ele dizia: - Não tira o batom vermelho.
Fiquei tão nervosa quando ele falou comigo que não sabia nem o que fazer. Quem me conhece sabe que eu mal consigo lidar com a ideia de flertar com UMA pessoa, imagina com duas ao mesmo tempo. Respirei fundo, aproveitei que a deixa da conversa tinha sido engraçada (e de humanas!) e respondi, dando risada, que nem de batom vermelho eu estava, que homem não entendia mesmo de cor. Ele disse que eu estava sim, eu disse que não, não lembro o que mais falamos, a conversa parou.
Paloma chegou do trabalho e resolvemos que era interessante sentar no colchão de ar que estava no chão do quarto e tirar metade dos livros da estante para conversar sobre eles. No meio disso eu comentei que o primeiro garoto tinha ido cochilar e que o garoto de humanas de que ela tanto tinha gostado tinha vindo falar comigo, mas a conversa não tinha rendido. Que sorte que ele é insistente.
Devia ser por volta das 19h30 quando, em meio a todos os livros que eu e Palo tínhamos espalhado pelo chão, o Tinder piscou de novo - e era ele, de novo, dessa vez perguntando algo como "mas e aí, como foi seu dia?". Desde então eu não sei direito o que aconteceu, mas em questão de vinte minutos eu tinha sido pedida em casamento E aceitado. Pouco tempo depois disso já tinhamos combinado morar na Austrália, ter uma tartaruga chamada Jaime e três filhos. Era o jogo de flerte menos assustador e mais engraçado que eu já tinha visto na vida. Passamos rapidinho para o whatsapp e de lá só saímos as 4h da manhã (juro) com um encontro marcado e absolutamente nenhuma ideia do que estava acontecendo. Falamos de tudo e de nada, ao mesmo tempo, por horas seguidas. Foi o melhor primeiro encontro da minha vida - e a gente nem tinha se encontrado ainda. Deixamos o encontro marcado para sexta-feira (e ainda era segunda), mas eu brinco até hoje que foi ali no quarto de Paloma, na Rua de Matacavalos, onde tudo aconteceu.
Um oferecimento de Machado de Assis
Parte 4: Ali naquela quarta-feira de setembro
Bom, agora preciso dar uma acelerada e dizer de uma vez que tudo o que aconteceu dali em diante foi ladeira acima. Adiantamos o encontro para quarta-feira porque não estávamos dando conta da situação. Eu tinha vontade de falar com aquele garoto o dia inteiro - e ele comigo. Pratos na mesa, nova data definida e lá fui eu acordar na quarta-feira com um iceberg dentro do estômago. Dado o meu histórico, o primeiro pensamento que deveria ter vindo na minha cabeça era a desistência - o que foi muito engraçado, porque apesar de todo o pânico (EU IA SAIR NO RIO DE JANEIRO COM UM "CARA DESCONHECIDO") eu nem cogitei cancelar os planos. Passei horas pendurada na orelha de Paloma (coitada) dizendo que ela tinha que ir junto de qualquer forma, enquanto ela reclamava que não queria empatar o coitado do garoto. No fim das contas, ficou combinado que ele levaria um amigo.
Durante o dia eu tentei viver normalmente e fazer a fina. Passei boa parte da tarde com Couthinha, terminei de ler um livro, visitei exposições, fiquei horas no jardim da Biblioteca Parque. Depois de tentar empurrar todos os receios para debaixo do tapete, de noite eu estava uma pilha de nervos. Lembro que tomei banho e me maquiei rapidinho depois ouvindo Ed Sheeran. Aí então eu e Palo saímos a pé e fomos caminhando pela Lapa até encontrar o tal do bar onde o date tinha sido marcado.
Eu podia dar uma enfeitada na história mas a verdade é que O BAR era um boteco de esquina MINÚSCULO com luzes apagadas e mesas de plástico pelo calçadão IGUALMENTE apagado. Perguntei onde ele estava e ele disse "preso no trânsito". Quando peguei o cardápio e vi que só tinha cerveja e dose de pinga para beber, olhei para a cara da Paloma em desespero. Ela disse que aquilo era um programa bem carioca, eu disse que então eu não era carioca o suficiente. Ela indicou outro lugar, passei a mudança de planos para ele no whats e seguimos a pé.
Com mais 5 minutinhos de caminhada chegamos ao novo bar, agora sim, um bar enorme e todo iluminado, com mesinhas de madeira e muitas outras coisas para beber. Achamos que tínhamos chegado primeiro e sentamos na primeira mesa - foi quando olhei o celular e ele disse que já estava numa mesa do outro lado do estabelecimento. Levantamos e nos encontramos no meio do caminho. Mais uma vez eu vou perder a chance de ser romântica para falar a verdade, e a verdade é que na hora eu estava TÃO nervosa que eu só consegui reparar que ele não tinha trazido amigo nenhum e que a Paloma não ia querer ficar. Tive mais ou menos 10 segundos para decidir se eu ficaria sem ela ou não (com um desconhecido (?)! no Rio de Janeiro!). Aí (agora brace yourselves porque serei romântica mesmo) eu olhei direito, finalmente, para o tal mocinho de humanas do Tinder e consegui falar para a Paloma, sem medo nenhum, que ela podia ir embora. Estava tudo bem.
E foi assim que eu vi que a vida colocou ele pra mim