quarta-feira, 31 de julho de 2013
Sopre as velinhas, Harry
domingo, 28 de julho de 2013
Dos comércios de bairro
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Um bom escritor
Eu estava na Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos, aquela antro maravilhoso de literatura, quando um vendedor parou do meu lado e começou a me falar apaixonadamente sobre livros, como se eu apaixonada o suficiente eu já não o fosse. Em certa altura da conversa ele pegou um exemplar de Moby Dick, com um milhão de páginas, e disse que você sabia que um escritor era realmente bom quando era capaz de escrever um calhamaço daqueles sobre baleias e ainda assim prender a atenção dos leitores.
Eu sei que é mais do que clichê “escritor” escrevendo sobre a falta do que escrever. Mas eu não consigo prender a atenção de ninguém escrevendo mil páginas sobre baleias, então não sou propriamente uma escritora e não vai ser clichê se eu reclamar de novo que eu não consigo escrever.
Falei pra minha amiga que não aguentava mais abrir esse blog pra mais uma filosofia de boteco. Antes ele era até equilibrado. Eu filosofava ali, e narrava fatos do cotidiano acolá. E de repente eu quase não narro mais. Conclui que minha vida deve estar muito sem graça, porque simplesmente não acontecem fatos a serem narrados. Ou será que acontecem e eu é que descobri que realmente não sei narrá-los? Espero que seja só uma dessas duas coisas. Porque acho que o pior de tudo é acabar vindo a descobrir que eles acontecem, e que eu até saberia narrar, mas perdi o feeling de perceber nas pequenas coisas algo de grande, que poderia virar um texto, que poderia ser digno de atenção.
Já vi aquela frase que diz que “Deus às vezes me tira a poesia da vida. Eu olho pedra e vejo pedra mesmo”. Mas acho que falta de poesia na vida tem limites, sabe assim? O que eu estou querendo dizer é que em alguns tempos áureos os textos escorregavam de mim como num parto a jato, onde eu já abria o Writer com dilatação total e de repente o cordão umbilical estava cortado. Hoje em dia a cabeça do texto só sai se eu forçar muito. O meio do texto? Só com cesárea. E eu estou pra lá de cansada de levar tanto ponto.
Lembro da emoção que era reler o texto e encontrar superlativos, mesóclises, metáforas, trocadilhos, referências. Lembro do tempo em que toda essa beleza caía no papel de forma leve. Ou do tempo em que eu tinha paciência pra sentar e escrever um texto bom, mesmo que ele demorasse 1 hora pra sair. Hoje em dia, 20 minutos de indecisões e já me dá vontade socar o teclado. E eu nem sei mais sobre o que eu estou escrevendo agora, na verdade. Acho que estou tentando entender se desaprendi a escrever, ou pior, se desaprendi a viver mesmo.
E a propósito: Não tenho a menor vontade de ler Moby Dick. Faça me o favor, mil páginas sobre baleias? Não é possível alguém ser tão bom escritor assim.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Minha cabeça é uma festa
Mais um primeiro dia de aula onde nada do extraordinariamente sonhado acontece. Acho que meu grande problema com a vida é sonhar. E mesmo achando isso, minhas palavras continuam sendo escritas sem que encostem nas linhas. Flutuam, bem como minha cabeça.
O professor está falando de crônicas e eu penso em várias que gostaria de escrever. O semestre dessa matéria vai ser divertido e tudo o que ele vai passar hoje é a ementa da matéria. Decido viajar para o futuro de novo. É. Aquele futuro que insisto em usar para fugir do presente. Aquele futuro que cisma em não dar sinais de que vai acontecer, mas com o qual eu continuo impreterivelmente sonhando:
É sábado de manhã. Estamos numa padaria. Eu, o marido e as meninas. Clara tem seus recentemente completados sete anos. Aurora espera ansiosamente a chegada dos cinco. Me lembro de quando eu esperava ansiosamente pelos cinco, só pela vontade de responder minha idade exibindo uma mão completa. Minha nostalgia é interrompida pela discussão das duas. Querem comer panquecas. As panquecas daqui são enormes e minhas filhas comem feito passarinhos. Meu marido sugeriu que dividissem a mesma, e foi aí que a encrenca começou. Clara quer a de frango. Aurora só aceita a de queijo. Não conseguimos balancear suas vontades. Desisto do meu waffle gigante para dividir a panqueca com Aurora. Marido resolve que tudo bem comer sua salada de frutas, sua omelete, e ainda arrematar o que sobrar da panqueca de Clara. Por que elas tinham que ser tão diferentes? Seria lindo se as duas gostassem de frango. Ou de queijo.
Os pratos chegam. Comem. Divido igualmente a panqueca de queijo com a pequena Aurora e ela ainda deixa no prato quase metade de sua metade. 1/4 de panqueca foi tudo o que minha caçula conseguiu comer no café da manhã. Tudo bem. Até meus 23 anos meus cafés da manhã se resumiam a um copo de toddy. Clara comeu quase metade da sua, e tão logo marido terminou o prato elas começaram a bradar pela “sobremesa”. Passamos pela estufa e logo sinto o cheiro do segundo round da confusão: Só tem um croissant de chocolate e é óbvio que nenhuma das duas quer o de doce de leite. Muito menos o de goiabada. E é igualmente óbvio que nenhuma delas vai querer dividir. Nessas horas o estômago sempre aumenta. Porque diabos essas meninas são tão iguais? Existem tantos sabores de croissants no mundo. A situação se resolve quando a moça que está em nossa frente na fila pega o croissant pra si. Clara fica irritada e Aurora faz bico. Eu faço cara de “paciência” e acabo com a história pegando uma tortuguita pra cada uma. Sorrio.
Sou trazida de volta a 2013. Sala de aula. Chove muito. Ainda não terminei meu primeiro livro do Zafón, tampouco encontrei o marido que fará parte dos devaneios acima. E o que mais me atinge, nesse momento, é que já tenho 21 anos e 3 meses. O que significa que tenho menos de 2 anos para incluir acompanhamentos ao meu copo de toddy no café da manhã.
domingo, 21 de julho de 2013
50 coisas que vocês não precisavam saber
E daí que eu estava zambetando pela internet sem nada pra fazer, e descobri uma dessas TAGS de Youtube que consiste em você gravar um vídeo falando 50 coisas sobre você. Claro que eu resolvi fazer e instigar a máfia a fazer o mesmo.
Gravei meus quase 20 minutos de bobagens, e só no final percebi que meu cabelo estava todo despenteado, porque é fino demais e escapou todinho dos grampos. Como dignidade pouca é bobagem, no meio do vídeo eu resolvi passar a mão no olho e carregar delineador pra bochecha, que ficou meio cinza. Mas tudo bem, porque se eu gravasse de novo eu já ia estar sem paciência, então vai isso mesmo. Pra completar, depois do vídeo demorar mais de 24h pra upar, a miniatura ficou bem assim. Quer saber, chega. Divirtam-se!
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Quase amor
Não soube direito dizer se o que a encantou foi a abelhinha desenhada com canela em cima do chantily de seu café. Ou se foi foi o vaso de amor-perfeito, no qual ela finalmente resolveu reparar. Se foi o fato de ter sempre uma citação escrita no quadrinho, ou o fato deles insistirem em chamar "cupcakes" de mini-bolinhos. Ou mesmo se foi o sorriso de Guilherme. Mas começou a sair sempre 1h mais cedo do que deveria, pra ter tempo de tomar poesia em seu café da manhã. E assim ela foi aprendendo o que era ter tempo. "o bom filho à casa torna", dizia o quadro-negro na terceira vez que Lilly apareceu. Um dia depois do dia em que ela chegou chorando, o quadro dizia "sorria. o mundo não merece suas lágrimas". E assim a vida se seguia.
Ela corria, Guilherme sorria. Os desenhos feitos com a canela ficavam cada vez mais produzidos. As mensagens no quadro cada vez mais diretas, e mesmo assim, ela tinha medo. Encarava aqueles olhos castanhos que estavam sempre sorrindo atrás do balcão mas não tinha coragem. Nem o dia em que ele escreveu "vamos?" ela teve segurança o suficiente pra responder "pra onde você quiser". Ele, tampouco, teve coragem de olhar pra ela e falar o que tantas vezes já tinha escrito.
3 meses depois descobriu porque que a menina tanto chorava. Iria embora. Tinha recebido uma proposta praticamente irrecusável de promoção no trabalho, mas tinha que se mudar para o Canadá. E tudo o que seu coração queria era que alguém desse um real motivo para ela recusar. Não recusou. Contou pra ele em seu penúltimo dia. No último, passou lá pela manhã e estava escrito no quadro "te amo". Mas o motivo que ela queria tinha chegado tarde demais.
Embarcou no dia seguinte e não saiu do avião como a Rachel, em Friends. Mas teve vontade de um telefona que fizesse ela largar tudo. No caso dela tinha sido uma mensagem em um quadro, mas ela cismou em não acreditar totalmente. Ele nunca ligou. Ela nunca saiu do avião. E 10 anos depois... bem, os dois se resolveram. Sozinhos e com outras pessoas. Ela casou com um médico canadense, que conheceu no dia em que teve uma úlcera de tanto tomar café. Ele não sabia que Lilly significava Lírio, mas tudo bem também. No dia em que ele mandou a primeira mensagem no celular dela dizendo "te amo", ela lembrou do "te amo" do quadro-negro. E imaginou quantas vezes Guilherme já não teria escrito aquilo para as outras. Quem sabe pra uma que realmente tivesse coragem de acreditar.
Guilherme, por sua vez, se casou também. Com outra moça que vivia enfiada em seu café, e que um dia se levantou de sua mesa, escreveu "te amo" no quadro e entregou pra ele, dentro do balcão. Ele sorriu. Chamou ela pra um cinema e dividiram a pipoca doce. Mas colocou o quadro no lugar pensando que nunca mais escreveria "te amo" ali para ninguém.
Os amores, às vezes, não são eternos. A consumação do amor faz com que ele se torne real, e por isso, tenha a chance de acabar. Mas os "quase amores", ah, esses são pra sempre. Não têm como morrer. Então apenas nascem. Em cafés, desenhos de canela, vasos de amores-perfeitos ou quadro negros. No fim das contas um "te amo" escrito a giz pode ser muito menos efêmero do que qualquer um possa pensar.
sábado, 13 de julho de 2013
Eu queria muito ter amado
Quando ouvi rumores de que J. K. Rowling estava aparecendo por aí com um livro eu fiquei com uma sensação muito dúbia no meu peito. Era uma alegria imensa de poder ler algo dela de novo, e um pavor imenso de imaginar ela escrevendo alguma coisa que não fosse Harry Potter.
Admiro. Claro que ela tem o direito. Ninguém quer ser marcado por “uma obra só”. E por isso eu fui deixando o barco correr. Olhava o livro e não comprava. Esperava pelo momento onde eu ia ter muita vontade de lê-lo. Pedi de aniversário e ganhei. Coloquei em cima da escrivaninha e esperei. Até que, ainda no meio da leitura de “Olhai os lírios do campo”, olhei de relance pra escrivaninha e ele gritou pedindo atenção. E eu ouvi.
Terminei Érico Veríssimo na maior correria, tamanha vontade de aproveitar aquela ansiedade súbita para finalmente ter um J. K. Rowling de novo nos meus braços e devorá-lo. Quando finalmente comecei o livro, olhei várias vezes para o nome na capa e lembrei de cada Harry Potter que eu esperei ansiosamente ter sido lançado. Prometi a mim mesma que ia apagar esse registro e ler sem fazer comparações. E consegui. Não pelo mais nobre dos motivos.
Essa leitura pra mim foi um gráfico. Quando comecei, viciei e achei que leria de uma vez. Mas ele oscilava muito. Perdia o sentido várias vezes. Aqueles milhões de personagens me deixavam maluca. Ao contrário das pessoas tão vivas que Harry Potter colocou na minha vida, as pessoas de Morte Súbita me pareciam vazias, sem aprofundamento nenhum. Consegui angariar um núcleo favorito, e os únicos momentos onde eu conseguia me entregar de verdade à leitura para esquecer da vida real eram onde esses personagens apareciam. No caso, o drama de Terri, Robbie e Krystal, com um dedinho de Kay, Gavin e Gaia. Dei umas risadas com Samantha e odiei Obbo com todas as minhas forças. E só. De resto, um enorme vazio. Parminder não me convenceu. Colin não me convenceu. Mary não me convenceu, e o chato do Simon menos ainda.
Consegui me envolver um pouquinho nas confusões e intrigas que rodeiam eleições de cidade do interior, e achei o máximo os adolescentes aprontando enquanto os adultos se descabelavam para descobrir quem era o grande mentor por trás das sacanagens virtuais. Mas a superficialidade dos personagens insistia em me afastar da história.
O fato é que ainda me pego chateada de dar 3 estrelas pra J. K. Rowling. Gostei de seu livro, e só. Terminei louca pra terminar, porque já não aguentava mais olhar pra capa dele toda hora. Li um livro do Antônio Prata em menos de 48 no meio da leitura dele. Não ataquei o livro quando ele saiu, tentei esperar nosso momento. E mesmo assim não rolou. Tem nada não. J. K. pra mim sempre será J. K., e nunca terei papas na língua ao dizer, sem receio, que minha vida vale a pena porque existe Harry Potter. Meu coração agradece silenciosamente a ela pela infância, adolescência e lições de vida que ela me deu de presente criando o fantástico mundo de Hogwarts e tudo o mais. Mas com Morte Súbita não rolou. E, meu Deus.
Como eu queria ter amado
quarta-feira, 10 de julho de 2013
O resto é silêncio
Já contrariei Amélie Poulain, balançando a cabeça bem contrariada e afirmando que para os verdadeiros sonhadores os tempos nunca ficariam realmente difíceis. Hoje já não acho. Acho que ficam difíceis sim; que até os sonhadores às vezes passam por seus doloridos momentos de não acreditar em milagres por hoje. E ainda digo mais: Os tempos se tornam mesmo difíceis, porque para os sonhadores dói ainda mais não acreditar mais.
É dolorido demais de engolir a vida te dando umas bordoadas desnecessárias quando você acredita tanto nela. Parece ingratidão. E parece que continuar acreditando traz o peso de um suicídio. Rasga a alma acreditar tanto e ver que as coisas não acontecem. Chega uma hora que fica pesado aceitar que as mais sonhadas batalhas só são conquistadas embaixo do chuveiro, onde a gente afoga o que não convém. A terra firme sufocando de volta após o fim do banho traz consigo mais gelo na espinha. A gente chora. Tenta limpar as próprias lágrimas, a própria alma, e pede a si mesmo pra conseguir se consertar.
Tem dias que o mundo dos sonhadores também perde as cores e as luzes. Apagam tudo, pintam de cinza, e se para as outras espécies de mortais, aquelas que não sonham, ver tudo cinza já é complicado, imaginem para os tais iluminados e coloridos sonhadores inveterados. O mundo vira um borrão e a gente jura que desistiu de tentar clarear. Jura que não vai mais tentar acender as próprias luzes. Sabemos que mais dia menos dia, elas vão se acender sozinhas. Mas nesses dias, enquanto isso ainda não acontece, o jeito é aceitar conviver com o peito gritando e turbilhando. E quando o mundo grita tanto para o lado de dentro, o que tá de fora é só resto. E o resto é silêncio.
Silêncio.