Minha amiga pegou meu “A Culpa é das Estrelas” emprestado, e me devolveu, brilhantemente, cheio de tags coloridas para indicar as páginas onde ela tinha deixado pequenos bilhetes com trechos que a fizeram parar de respirar.
Quando eu terminei de ler esse livro, eu não sabia o que fazer com tanto sentimento dentro do meu peito. Dei uma mordida na beirada do livro, e depois fiquei abraçada com ele em posição fetal pensando que minha vida jamais seria a mesma depois de Hazel Grace, Augustus Waters e tudo o mais que circunda suas existências. Tive certeza de que sentiria saudades desse livro para sempre, e amarguei o fato de que nunca mais poderia lê-lo novamente pela primeira vez.
Sinto saudades dele desde aquele momento, mesmo tendo-o em minha estante. E tive até medo de relê-lo e não sentir a mesma coisa. Heresia. Hoje quando abri o livro com as anotações da Éri, tive certeza de que já passa da hora de devorá-lo outra vez. Porque ele sempre vai fazer todo o sentido do mundo, e eu só vou conseguir abraçá-lo e dizer “OKAY”.
Mas na realidade eu não vim falar sobre isso. Eu vim falar sobre o que está no título. Porque uma das páginas que minha amiga tinha separado tinha justamente um trecho que fez meu coração parar por alguns instantes, tamanha sua sinceridade: “Eu fiquei pensando no verbo lidar e em todas as coisas não lidáveis com que se tem que lidar”.
E eu fechei o livro, abracei, e pensei de novo em como isso tudo aí é uma verdade dolorida. A gente passa por muita coisa nessa vida. A gente lida com muita coisa nessa vida. A gente assiste gente que a gente ama lidando com coisas com as quais a gente tem certeza de que não conseguiria lidar.
Que atire a primeira pedra quem nunca disse: “Fulano foi muito forte. Eu no lugar dele não aguentaria”. Eu já disse inúmeras vezes. E quer saber? Não acho de verdade que seja bem assim. Não é bem aquela história de que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, mas acredito que seja algo que tenha mais ou menos a ver com isso. Na verdade acho que a gente aprende a aumentar o cobertor conforme o tamanho do frio que a gente sente.
O fato é que coisas, impreterivelmente, acontecem. E a gente não tem outra escolha senão lidar com elas. Eu tive que me mudar aos 7 anos de cidade. E tinha certeza de que aquilo era extremamente não-lidável. Quando eu pensava, aos 17, que estava muito feliz com minha vida em São Paulo e que jamais me mudaria de novo, meu pai chega em casa e diz que a gente vai se mudar. Agora sim, isso não era lidável. O mesmo raio não deveria cair duas vezes no mesmo lugar. Mas caiu, e eu fui obrigada a lidar com aquilo. Quando eu tinha meus 14 anos e via as pessoas desesperadas falando de vestibular eu pensava que não queria chegar naquela idade, porque eu não conseguiria lidar com aquilo. Lidei.
O fato é que, infelizmente ou não, todas as coisas são lidáveis. E não porque sejamos exatamente fortes ou estejamos preparados para elas, mas simplesmente porque a gente precisa lidar com elas. A gente tem que engolí-las guela abaixo e arrumar forças, às vezes de um lugar que nem sabíamos que existia.
Para finalizar, vou ser obrigada a parafrasear John Green em Hazel Grace de novo, pra dizer que isso tudo é apenas um efeito colateral de se estar vivendo, e que tudo é, na verdade, um efeito colateral de se estar vivendo.
Unfortunately