Pouco entendo de cinema, de moda entendo menos ainda. Não tenho paciência pra futilidade, e digo com a consciência limpa que preferia ser dona de uma biblioteca a ter um Dior pendurado no meu armário. Ignoro a existência dessas grifes durante 364 dias no ano, e não sei o nome de metade da população de Hollywood. Minha amiga jura que, tempos atrás, cheguei ao cúmulo de perguntar quem era Heath Ledger, só pra vocês terem noção de como o caso é grave. Eu nunca tinha assistido Dirty Dancing até esse ano.
Só tem um dia no ano, no meio de todos os outros, onde eu passo a noite e o início da madrugada praticamente ajoelhada no sofá, babando em vestidos, pesquisando o nome de celebridades no google para acompanhar o papo das minhas amigas, gritando e torcendo por filmes que nunca vi e diretores que mal conheço. Prazer, Ana Luísa, vencedora do Oscar de “Poser de Oscar” por quatro anos consecutivos.
Se nas Olimpíadas eu viro comentarista esportiva e passo a entender tudo de esgrima e na copa passo a entender a regra do impedimento, nada mais lógico que no Oscar eu passar a entender tudo sobre Hollywood para sair palpitando por aí. E meu Oscar 2013 foi mais ou menos assim.
Gritando em Caps Lock com Milena, Anna Vitória, Taryne, Renata, Marie, Rafaela e Dedê, eu reclamei de As aventuras de Pi sem nem ter visto, acertei que o vestido de Jennifer Aniston era um Valentino só por ser vermelho, twittei que queria que um dia alguém me perguntasse “quem” eu estava vestindo, e chorei lágrimas de sangue quando Naomi e Emmanuelle perderam sua chance do Oscar para Jennifer Lawrence. Isso porque eu não assisti Amour, e só descobri que a Naomi era a mulher de “O Impossível” porque a Rafinha me refrescou a memória.
Fui dormir quase 3h da manhã, super chateada por ter uma vida comum demais. Acordei naquela ressaca pós Oscar, e passei o dia remoendo a minha vida sem graça, sem acreditar que Jennifer tem 22 anos e uma estatueta daquelas em sua estante, enquanto eu não fiz nada de importante com a minha vida a não ser Vamos Falar de Amor sem dizer Eu Te amo. Como bem disse a Tary: Vamos continuar recriminando a escolha da Academia por ela, e isso não vai mudar nada, já que ela está lá, olhando pro troféu, e nós estamos aqui, com a mesma idade que ela, olhando para o nada e curtindo um recalque.
Digo ao povo que amei a celebração desse ano, porque ela foi extremamente musical. Digo que teria me apaixonado facilmente por Seth se ele tivesse parado de fazer piadas e se contentasse em apenas cantar. Fiquei irritada com aquele Teddy de terno no palco, mas não tenho respaldo pra falar do assunto, afinal, digo que odeio esse filme, mas adivinhem: Não assisti.
Se eu fosse falar de roupas, diria que Jessica Chastain era a melhor vestida. Mas que fosse eu, iria de Amy Addams, porque Oscar é só uma vez no ano, e eu iria com roupa de Oscar, e não com roupa de ir em casamento. Amy estava com uma calda armada e cheia de plumas. Essa certamente seria eu. Agora vamos mudar de assunto.
O ponto alto da minha noite foi o mesmo ponto alto da noite de um milhão de garotinhas como eu: O Oscar de Anne Hathaway. Ok, estou chateada até agora que ela tenha escolhido um vestido tão errado para encarar a noite que obviamente seria dela, mas isso não muda o fato de que Mia Thermópolis tem um Oscar, e o recebeu das mãos de Capitão Von Trapp.
Na verdade, não sei se gostei mais do Oscar de Anne ou da performance da Noviça Rebelde que rolou logo antes. O apresentador chamando pela família Von Trapp, aquele facho de luz mostrando a porta que não abria, e o momento ápice de minha festa foi o soldado entrando pra gritar “They’re gonne!”. Eu pulei no sofá de tanta emoção, e rapidamente algumas janelas subiram no meu chat, com pessoas vindo me perguntar se eu tinha visto. Vi, gente. Claro que vi. Meu coração está doendo de amor até agora. Devia ter “A Noviça Rebelde” em todos os Oscars, e eu só perdoo a Academia de não ter dado nenhum Oscar a Harry Potter porque “A Noviça Rebelde” ganhou todos os que merecia.
Não assisti Argo, mas torci pra Les Miserables. Queria ouvir a música mais uma vez. Não assisti Lincoln, mas torci pra Hugh Jackman ganhar aquele troféu. Não assisti Valente, mas torci pra Detona Ralph. Não assisti Django Livre, mas queria que Leonardo DiCaprio tivesse sido indicado. Na verdade, não assisti 7 das 9 produções que estavam indicadas a melhor filme, mas meu coração doeu de amor por um que ganhou o de 1965.
Essa sou eu. Se eu entendo de alguma coisa, é de nostalgia. Principalmente por tudo aquilo que aconteceu ainda antes de eu nascer. Agora já passou, a vida continua. Aquelas pessoas tem vestidos lindos e estatuetas em suas casas. Eu tenho minhas calças jeans, meus livros, e todos os meus melhores filmes do mundo gravados no Oscar do meu coração, que nunca vai deixar de bater de acordo com o som da música.