Na verdade, é uma ode ao mundo que fica ali, atrás daquele portão azul. Mas ele é como se fosse o “portal”, então nada melhor do que deixá-lo no título.
O portão azul parece um simples conjuntos de… barrinhas azuis com pontinhas que espetam. Mas ele é muito mais do que isso. Ele separa o mundo todo do meu paraíso particular: A casa da minha avó.
Desde que eu me conheço por gente, aquele portão é azul. E eu lembro de pensar, desde pequeninha, que o nosso portão era muito mais legal que o portão cinza da vizinha (Oi, Iracema!). Porque assim, todo mundo pode ter um portão cinza. Mas o da minha avó é azul.
Além de ser azul, ele abre. Ele abre o MEU mundo. Quando eu era criança, eu chegava de Vitória, sentava no chão da sala e ficava olhando em volta e me beliscando, pra saber se era verdade que eu estava mesmo ali, na casa da vovó. E olha que Vitória era pertinho! Depois que eu mudei pra longe então, quando eu estava lá eu nem acreditava que o dia de estar ali tinha chegado. Eu cresci. Cresci e não me belisco mais por está ali. Não fico olhando em volta e tocando nas paredes para ter certeza de que eu estou ali. Nem brinco de Felicidade Clandestina, fechando os olhos e fingindo que estou em casa, para então abrí-los e “descobrir” que eu estou na casa da vovó. Mas a casa da vovó continua sendo a casa da vovó. E eu continuo sentindo um arrepio gostoso quando cruzo aquele portão e piso naquela varanda de ladrilhos retangulares.
Quando eu era criança, eu gostava de me pendurar no começo do portão e chegar até o outro lado sem cair. Também gostava de me pendurar na porta dele, e ficar balançando, o que deixava meu avô irritado. Mas TODOS nós tivemos a fase de nos pendurarmos na porta. E eu confesso que até hoje quando eu fico parada muito tempo perto dali fico com vontade de me pendurar para balançar.
Também já prendi meu dedo nele, e entrei em casa chorando e pedindo pra mamãe colocar gelo. MUITOS de nós também prenderam o dedinho na porta, pelo menos uma vez.
O portão também já foi pseudo-rede-de-vôlei. Lembro do João Gabriel de um lado e Matheus do outro, jogando bola. Já tentei brincar disso com o Daniel, mas eu nunca conseguia segurar a bola.
Lembro das fases onde o portão ficava amarrado em cima, para as crianças pequenas não conseguirem abrir. Não que hoje não tenha mais criança, porque sempre tem. Mas é que antes tinha mais criança que adulto, e aí eles tinham os seus meios de nos impedir de fugir. Lembro também da minha felicidade quando eu consegui, na pontinha dos pés, alcançar essa tranca improvisada e abrir o portão. Era quase o ápice da independência abrir a tranca do portão sozinha!
Eu amo a casa da minha avó, e com certeza, chutando baixo, 90% das minhas melhores memórias de infância foram vividas naquela casa. E todo final de ano, quando eu vou pra lá e redescubro tudo o que tem lá dentro, eu tenho vontade de ajoelhar e agradecer a Deus por ter me dado tudo isso de presente. Alguma coisa de muito bom nessa vida eu fiz, pra ganhar a casa da vovó e todas as pessoas que vieram dentro dela.
Por isso a minha ODE vai para o portão azul! O portão azul que dificilmente fecha, mas sempre abre. (Menos para as crianças que querem fugir sem ter idade para isso.)