Eu nunca gostei de física, mas se tem algo que tirei de todas as aulas desta nada distinta disciplina que fui obrigada a suportar da 7ª série até o 3º ano do ensino médio é que VM é igual a delta S sobre delta T e que a inércia é uma lei que prega que todo corpo que está parado tende a continuar parado.
Acho que comecei a entender mais ou menos o que isso queria dizer quando estava no olho do furacão do meu segundo ano de faculdade. Se alguém me perguntar como sobrevivi a 2011 eu não saberei dizer. É claro que eu sei que muita gente se vira nos 30 porque tem que fazer milhões de coisas todos os dias mas o câncer do vizinho não cura o meu resfriado e long story short, a verdade é que nesse longínquo ano de 2011 (parece que foi ontem) eu ia para a faculdade de manhã, para o estágio à tarde e para a aula de teatro à noite, o que fazia com que eu basicamente saía de casa às 6h40 e voltava para ela às 22h20, com um rápido intervalo no horário do almoço. Se você pensa que eu chegava e morria você está tremendamente enganado, porque os momentos relaxantes do dia devem ser aproveitados, dizem, de modo que eu chegava, tomava banho, jantava, e só então ia "viver", o que significava que era basicamente perto da meia noite que eu sentava no computador para assistir coisinhas, pegava um livro, pensava na vida, essas coisas. Eu passei 2011 inteiro dormindo uma média de 3 horas por noite - e eu não consigo lembrar de um ano em que eu tenha sido tão produtiva e tenha tido tanta energia, à parte do sono.
A verdade é que eu passava o dia bocejando e aproveitando cada trechinho de locomoção para cochilar e preferia almoçar em 10 minutos para dormir os outros 40 disponíveis, mas fico admirada de lembrar que mesmo bocejando eu tinha muita vontade de fazer um monte de coisa o tempo todo e me envolver em tudo quanto é projeto e invenção errada era possível. É por isso que o gráfico é tão desesperador, me acompanhem.
Lembro de alguém ter dito uma vez que quando você quer pedir alguma tarefa urgente a alguém, deve pedir a alguém que já está bastante atarefado. A ideia é que quem tem muito o que fazer sempre arranja uma brechinha para ter mais o que fazer, enquanto quem não anda fazendo muita coisa... precisa sempre de mais tempo ainda para não fazer nada. É triste constatar que isso é a mais pura verdade.
Como já falei por aqui em linhas tortas algumas vezes, em agosto do ano passado eu fui demitida. Cumpri o aviso prévio até o início de setembro e desde então entrei nas estatísticas. Lembro tão nitidamente da minha primeira madrugada como demitida porque eu chorava copiosamente e dizia que no dia seguinte iria procurar outro emprego. Quando a adrenalina baixou, fiz uma porção de contas e decidi que conseguiria "ficar de férias" até o final do ano. Seria um presente para mim mesma, concluí, porque desde o 2º ano de faculdade eu tinha começado a trabalhar, emendado um emprego no outro e nunca tinha nem parado para pensar no que eu queria fazer.
O tempo passou e eu confesso que não procurei emprego ativamente até agora - já estamos em março. Tenho algumas coisas em mente, vou começar uma pós, alguns planos foram feitos incluindo uma viagem no fim de abril com o boy para "se despedir" do meu futuro 1 ano sem tirar férias, já que um emprego novo vem com isso na bagagem. Noves Fora (nunca entendi essa expressão) tudo o que eu queria era dar mais uma explicação barata pelo meu sumiço do blog: confesso que não ando fazendo muita coisa, e é impressionante como simplesmente sentar para escrever se torna complicado quando você não tem quase nada competindo a atenção com isso.
Quando a gente tem muito tempo livre parece que tudo pode ser feito daqui a cinco minutos. Tem dias que penso que preciso sentar e pelo menos pensar em algum texto - e nada. E nada. E nada. É um looping. E aí, depois de ter postado só duas vezes em fevereiro, eu lembro que em agosto eu segurei um BEDA inteirinho, trabalhando e vivendo normalmente. Onde foi parar tudo isso? No âmago do tempo em que eu tinha menos tempo sobrando e vontade de gastar minha energia com coisas interessantes que vão além de assistir seriado ou, sei lá, ficar parada olhando para o teto.
A inércia é um conceito muito verdadeiramente bizarro. Ou seria bizarramente verdadeiro? O fato é que, eu digo, já parece meio ridículo procrastinar postagens no blog, imaginem procrastinar pegar o celular, abrir o whatsapp e ver o que está acontecendo nos grupos. Ou ainda: parabenizar logo o amigo pela peça de teatro de ontem. Ou ainda: dar parabéns para a amiga que está fazendo aniversário. TUDO, absolutamente TUDO parece extremamente passível de ser feito daqui a pouco, ou daqui a muito, ou OPS, nunca? Posso me arrepender depois de ter dito isso, mas olha, que saudade de estar ocupada e produtiva e feliz de estar fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Não sou do time que prega que a gente tem que estar SEMPRE ocupado para ter orgulho de si mesmo. Prezo totalmente os meus dias de descanso, mas já deu muito tempo de aprender que eles são bem mais preciosos quando a gente passa, pelo menos, os cinco dias da semana esperando por eles - ou o mês inteiro esperando pelo feriado.
Esse blog tem 7 anos com 6 anos e meio completamente assíduos. Peço perdão pelo semestre esquisito e vazio, ainda não consigo prometer que VOU VOLTAR e ser melhor, mas posso prometer que existe essa intenção, serve? Vocês ainda vão me ver, de novo, descabelada e postadeira e apaixonada, porque dessa novidade eu nunca mais vou me desocupar.