domingo, 31 de agosto de 2014

BlogDay 2014

blogday

Como a essa altura todos já devem estar sabendo, hoje, 31 de agosto, foi convencionado o BlogDay. Dia de fazer folia nos blogs, comemorar a existência deles (eu não sei o que seria da minha vida sem um feed deliciosamente recheado) e claro, indicar alguns para que a galera possa dar uma passeada e conhecer coisas novas.

O RotaRoots deu muita atenção para o BlogDay esse ano, criando até um hotsite exclusivo para o evento, e deu a ideia de que indicássemos os escolhidos em 3 categorias: – Não saem do meu feed, – Blogs para sair da rotina e – Blogs que conheci no RotaRoots. Só que eu estou toda trabalhada no free spirity hoje e, portanto, vou indicar os meus sem seguir nada disso, tá? Cêis me desculpem. Antes de tudo, gostaria de lembrar que a ordem dos fatores não altera o produto!

Do Seu Pai: Todo mundo que me lê já deve conhecer, porque eu não consigo não mencionar esse blog de vez em quando por aqui. Mas é que ele realmente faz uma diferença enorme na minha vida. Sempre que eu leio (e eu leio sempre) eu renovo a minha fé no amor. Eu se fosse vocês entraria lá agora  para adicionar mais amor ao coração nesse fim de domingo.

Filosofinhas: Esse daqui, pelo visto, estourou perto da morte do Eduardo Campos, porque a dona fez um texto absolutamente sensacional sobre respeitar o sofrimento dos outros ao invés de ficar fazendo piada sobre o assunto. Claro que não aguentei ficar só naquele texto e li o blog inteirinho de uma vez e recomendo totalmente. Julia, a autora, é professora de educação infantil e dá verdadeiras lições de vida relacionadas às histórias incríveis que vive com suas crianças.

1001 pessoas: Já falei desse blog antes, também, e inclusive, bolei uma categoria de posts no meu blog para seguir a ideia incrível que Aline montou. Para quem não tinha visto ainda, não deixe de clicar. Só garanto que é viciante e que quando você perceber, horas terão se passado e você não conseguiu parar de ler as histórias.

Starships & Queens: Fora o layout lindíssmo e totalmente clean, que sempre me conquista de cara em qualquer tipo de blog, Ana Luíza (é minha xará!) escreve deliciosamente sobre o que der na telha dela. Além disso, ela é uma fofa que lê os nossos blogs com a mesma atenção que escreve o dela e sempre me deixa comentários enormes!

Palavras Aleatórias: Além do blog ter um dos topos mais lindos que já vi, Carol escreve deliciosamente e está narrando suas aventuras na Holanda, visto que acabou de chegar na terra das tulipas para fazer intercâmbio. Corre que ainda dá tempo de pegar o comecinho da saga da viagem e se encantar com as histórias que – tenho certeza – ela ainda vai nos contar!

Colorida Vida: Quase ninguém sabe, mas eu leio blogs há muito mais tempo que escrevo. Me encantei por esse universo quando a minha prima criou um blog para meu afilhado (que hoje tem 10 anos) quando ele era bebê. Entrava para ler sobre ele, via mais blogs nos links e de um para o outro, achei o blog da Ana Paula quando a Laura, filha dela, ainda era um bebê e ele se chamava Menina Laura. A Ana com certeza não sabe disso, vai saber só agora: nunca parei de ler o blog dela, mas comentava raríssimas vezes. Nesse ano encontrei o instagram dela, comecei a seguir, ela me seguiu de volta e acabou descobrindo o meu blog e comentando, de modo que abaixei a cabeça de vergonha, retribuí o comentário e virei uma leitora assumida. Nesse tempo todo que eu a leio, Ana se mudou para o Canadá, teve outra filhinha, se formou em biblioteconomia e em seu blog escreve diários para as filhas, fala da sua nova profissão, da vida no Canadá e de suas leituras!

Maçãs Verdes: Minha ideia inicial era não indicar ninguém da máfia, porque todo mundo tá cansado de saber que somos todas irmãs e nada mais óbvio o fato de que eu amo os blogs de todas elas. De qualquer forma, Amanda me indicou no dela e quebrou minhas pernas: Não resisti a indicá-la também. Ela é blogueira das antigas também e seu assunto favorito é seu próprio cotidiano. Quer saber? Amo gente totalmente auto-centrada na blogosfera. A melhor parte de tudo isso, para mim, é entrar em contato com histórias de vida!

Sem formol não alisa: A Dani é uma fofa que, também, basicamente utiliza o blog para falar de seu cotidiano. Ela estuda na USP, adora organização e se divertiu horrores na Copa junto comigo, o que acabou nos aproximando deliciosamente!

All ternative: Bianca também fala basicamente sobre sua vida, de uma forma simples, direta e divertida. Adora fazer listas de vez em quando (e eu adoro lê-las!) e parece ser uma simpatia de pessoa!

So Contagious: Updateando na cara dura porque resolvi quebrar as regras e indicar blog repetido de BlogDay anterior. E é repetido para sempre porque a Anna nunca vai sair dos meus feeds. Não só é um dos meus blogs favoritos como a dona dele é uma das melhores amigas da minha vida, minha irmã de alma, que escreve brilhantemente e é minha parceira de crimes e mais ciladas.

Agora moro na lua: Mesmo caso acima: indicando amiga na cara dura e para sempre, com muito amor no coração e nenhuma vergonha. Milena escreve menos do que deveria, mas quando o faz, arrasa. Esse blog é cheio de filosofias inteligentes e muita doçura escorrendo pelas palavras. 

E por hoje é isso, pessoal! Quero agradecer e parabenizar a toda a blogosfera por fazerem a minha vida mais feliz, e deixar um carinho especial também a todos os que, nesse dia, indicaram o Minha vida como ela é! É muito bom a gente lembrar que algo que a gente escreve pode fazer diferença para alguém!

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Casar, Beijar, Penhasco

Na falta de texto, a gente brinca de vídeo pra não deixar o blog cheio de teias de aranha. As explicações da TAG estão todas no início do vídeo, módisque não vou me alongar por aqui e deixar que vocês se divirtam assistindo. Quem por acaso se animar de brincar também, não deixe de me avisar nos comentários que eu quero ver, tá bom?

sábado, 23 de agosto de 2014

Marina,

você tem os olhos da sua mãe. Azuis. Feito duas bolas de gude. Feito os meus, também. Seus olhos são lindos, mas não é por causa da cor, não. Cor é exterior, sabe? Quem quiser compra uma lente azul, coloca e fim: olhos azuis. Os seus são bonitos por um milhão de outros motivos e o maior deles é o fato deles serem seus.

Você tem os olhos da sua mãe, e é a cara do seu pai, Nina. Tirando, é claro, os cabelos lindos e ruivos que você puxou de algum outro canto. Seus cabelos são finos, maravilhosos, laranjas e únicos, como você. Eles são fininhos e vivem embaraçando. Como os meus.

Você tem os olhos da sua mãe, é a cara do seu pai e acorda mau humorada. Tira seu soninho da tarde e aparece no meio da sala em algum momento, após acordar, onde todos estão conversando, fazendo barulho, rolando no chão. Você observa a cena de longe, com os olhos entre abertos e um bico bem sério. Os cabelos bagunçadíssimos.

Outro dia você acordou de um sono desses e apareceu na sala. Me viu, veio correndo, deitou no meu colo, enfiou a cabeça no meu braço, fechou os olhos de novo e miou. Miou com seu jeitinho de miar. Eu miei de volta, porque não tinha outra expressão melhor para mostrar o quanto eu te amo. O quanto eu amo você enfiando a cabeça nos meus braços para se esconder do mundo.

Marina, você tem os olhos da sua mãe, é a cara do seu pai, acorda mau humorada, tem quase 3 anos e é um bebezão. Como eu amo isso. Sua irmã, aos 10 meses, vinha correndo até mim e me chamava de Lu. Com 1 ano e 2 meses me chamava para brincar, usando o português quase correto. Você, com 10 meses nem me dava bola. Com 1 ano e 2 meses, pouco se entendia do que você tentava falar. Você é um bebezão, e puxa, que delícia é você, com quase 3 anos, roçando o rostinho na gente com chupeta na boca. Aliás, chupeta não: peta di cuúja, por favor.

Cada pessoa tem uma função na nossa vida, Nina, saiba desde já. Sua irmã é minha melhor amiga; meu porto seguro. Ela me re-ensinou a sorrir quando os músculos da bochecha pareciam mais pesados que o normal. Ela me puxa pelos cabelos, grita no meu ouvido, parece um furacão e vira tudo do avesso. Ela nasceu de olhos abertos e acorda pulando. Seu priminho é o dono do meu coração; eu esperei por ele a minha vida toda e isso é muito tempo. Ele nasceu com os olhos meio abertos e ele passeia entre a agitação e a preguicinha. Você é diferente. Você se aninha em mim quando tem vontade, passa as páginas do livro devagar, grita quando é contrariada. Você nasceu de olhos fechados e demorou dias para se convencer a abri-los. É isso também que você faz quando acorda: demora a se convencer de que a vida está aí. A Anna é minha melhor amiga. O Ricardo é o dono do meu coração. Você é o meu xodó. E enquanto você comemorar minhas chegadas, lamentar minhas saídas e se aninhar em mim quando está de preguicinha, enquanto tudo isso acontecer, meu amor, eu saberei que está tudo indo muito bem. 


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Todas as histórias são sobre nós

Roubei descaradamente esse título (belíssimo, aliás) que minha amiga Milena usou certa vez, em um texto que relacionava a ficção com a vida real e de como isso acontece nas nossas mentes. Leiam lá, é bem interessante! O meu viés para ele (o título) é um pouco diferente.

Quando resolvi brincar desse projeto aqui e comecei a parir o primeiro texto, esse título da Mimi me veio na cabeça durante todo o tempo em que eu escrevia. Enquanto concebia o segundo, lá vinha o mesmo pensamento. Tudo por quê? Porque a ideia era falar sobre as pessoas, e eu absolutamente não consegui fazer isso sem deixar bem claro todo o contexto possível: fui falar do livreiro e contei que eu e minha amiga estávamos de férias, passeando pelo shopping e que, inclusive, no dia anterior a livraria estava fechada para balanço. Ao falar da manicure, narrei todo o meu histórico manicuresco anterior, que nada tinha a ver com a moça em si. Antes de falar dos personagens, não me convite em falar da história que me levava até eles, história essa que nada teria a ver com suas questões.

Fiquei meio mal-humorada e descontente comigo mesma enquanto escrevia. Pensava: “Mas será possível que não consigo me ater a uma proposta e conseguir fazer o troço direito, falando sobre as pessoas e pronto?”. Não, concluí. Não tem como. Todas as histórias que eu quiser contar, por mais que sejam sobre outras pessoas, serão sobre mim. Porque todas as histórias que vivemos no mundo são sobre nós.

O ser humano é egocêntrico por inerência e, neste caso, não uso de forma alguma a palavra egocêntrico como um defeito. Uso pura e simplesmente como forma de explicação. Somos egocêntricos e ponto final. Qualquer coisa que pensemos sobre algo o alguém vem carregada de nossa visão de mundo. Estivéssemos nós vivendo em qualquer outro contexto e pensaríamos de outra forma, reagiríamos de outra maneira, nos relacionaríamos com os outros trazendo outra bagagem. Todas as histórias são sobre nós.

Para fazer um paralelo, cito ainda (e mais uma vez) a célebre frase de Sartre: o inferno sempre são os outros. Tudo isso porque certamente gostaríamos que tudo girasse ao nosso redor. Porque gira. Não o mundo todo, mas o nosso mundo gira sempre em torno de nós e da reação que temos diante dele e só o que queríamos de todas as outras pessoas era que elas fizessem o mesmo: girassem suas vidas em torno da nossa.

Quando penso nisso, lembro automaticamente da Rachel, de Friends, quando os pais dela resolveram se separar. Ela, indignada com essa dor de cabeça na altura da vida em que se encontra, diz que os pais deviam se contentar em serem pais, e não insistir em ter vida própria que, ainda por cima, interferisse na dela. Acho essa passagem absolutamente genial. Que atire a primeira pedra quem nunca desejou que as pessoas não tivessem suas próprias questões e, então, vivessem somente para cumprir o papel que possuem na sua história, de forma que nada mais te interferisse negativamente. Talvez fosse o fim do ciúme, das preocupações externas, dos perrengues, das confusões. Não fossem os outros podendo tomar decisões sozinhos por aí, poderíamos mandar em tudo o que dissesse respeito ao nosso universo, e assim tudo giraria absolutamente em torno de nós.

Todas as histórias são sobre nós, mas não são, porque todo mundo pode enfiar sua própria vida para meter o bedelho na sua e mudar qualquer sentido e qualquer destino, o tempo todo. Acho que essas duas verdades tão universais e tão contraditórias são o grande paradoxo da vida: nascemos precisando aprender e, muito provavelmente, morremos na mesma condição.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

RIP

Um dia desses eu olhei a minha pilha de livros em cima da escrivaninha e tive uma epifania sinistra: Em qualquer momento da minha vida que eu morra (bate na madeira 3 vezes) eu deixarei uma pilha de não lidos.
 
Se chegar a essa conclusão já foi assustador, imaginem então quando, no meio de outro pensamento, sentei assustada na cama e pensei que, muito pior que isso, provavelmente, quando morrer, deixarei um livro NA METADE.

A morte me assusta. Não só a minha. Todas elas. Me assusta e me deixa completamente perturbada. Não consigo simplesmente aceitar que alguém que estava aqui ontem de repente não está mais.

E eu estava com esse tema rondando a minha cabeça, sem saber como abordar em algum texto. Porque, é claro para todo mundo que, ao morrermos, com certeza deixaremos algo no meio do caminho. Sempre fica algo por dizer, algo por fazer, alguém por abraçar, uma história para terminar. Mas as vezes (graças a Deus) a gente esquece disso. Minha pergunta é: Seria mais proveitoso viver sem pensar na morte ou pensando nela?

Ficaríamos transtornados pensando que tudo tem um fim ou aproveitaríamos mais cada momento e tentaríamos não deixar nada por fazer, sabendo que podemos ir embora a qualquer momento?

Morreu o moço Eduardo Campos, todos vocês sabem. E morreu do nada, em um acidente de avião, um dia após sua entrevista no Jornal Nacional. E é terrível lembrar que isso pode acontecer a qualquer momento com qualquer um. Estarmos aqui, cheios de planos, e no dia seguinte, THE END. E salvo em casos de doenças gravíssimas a longo prazo, esse THE END vem sem avisar e sem termos direito a choros e velas que o convençam a não chegar. E eu nem sei mais como continuar porque isso dá um nó enorme na minha cabeça.

Em abril assistimos, no meu trabalho, uma palestra sensacional com o dramaturgo e ator Roberto Alvim, não sei se vocês conhecem. O cara é incrível. E deu um sermão gigante em todos os presentes, perguntando o que pensaríamos se a morte aparecia para nos levar. Ele disse que só está vivendo direito quem teria coragem de dar as mãos pra ela e acompanha-la com paz de espírito, e que quem ajoelhasse pedindo mais tempo não entende nada da vida.

O que ele quis dizer era que temos que estar vivendo todos os dias de forma inteira. Aproveitando cada segundo e resolvendo nossas crises e que, por isso, estaríamos sempre felizes e limpos quando a morte quisesse aparecer, sem precisarmos pedir por mais. Isso só me deixa mais confusa porque, estando eu completamente feliz e limpa, teria mais vontade ainda de pedir por mais tempo. Não devo saber nada da vida mesmo.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

2. A manicure que não deixa a filha cortar o cabelo

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

Quando eu morava em São Paulo e resolvi que iria fazer unha regularmente, comecei a frequentar o salão da minha rua. Era um salão minúsculo e ficava somente a alguns 30 passos do meu prédio. Tinha 2 cabeleireiros e 2 manicures, todos parentes entre si e, aparentemente, o meu prédio inteiro (de 80 apartamentos) era cliente do lugar.

Foi ali que eu aprendi que manicure sempre sabe de tudo. Se eu passava 1 hora fazendo unha, era 1 hora que eu passava descobrindo sobre todos os babados nos quais meus vizinhos estavam envolvidos e, inocente que era, obviamente contava todos os meus dramas de adolescentes E confusões com os vizinhos para ela, que com quase toda certeza passava a ficha completa para a próxima que ocuparia a minha cadeira. O negócio era tão quente que tinha gente que aparecia sem nem ter unha marcada: só para fofocar mesmo.

Quando me mudei para Curitiba, fiquei um tempão sem fazer unha toda semana. Depois acabei conhecendo uma manicure carioca muito engraçada que me animou, e eu voltei a brincar disso. E funcionava muito bem quando eu fazia a unha de sexta-feira a tarde, na minha vida de estudante burguesinha que podia voltar da faculdade e passar a tarde de pernas para o ar (inclusive, sdds). Depois que eu comecei a trabalhar, ela acabou mudando de salão. Como eu tinha preguiça de ir ao outro salão, que era longe, ela se ofereceu para fazer minha unha em casa, nas segundas-feiras, que é o dia que o salão não abre. O papo não é sobre ela, e por isso acabarei com esse causo por aqui, contando apenas que não rendeu muito tempo porque segunda-feira ao meio dia, entre meu horário de faculdade e o de trabalho, eu morria de sono e não tinha o menor pique para as conversas que a gente batia na sexta-feira, módisque fui virando uma chata que não sabia conversar e acabamos, lentamente, desistindo uma da outra. Eu não ligava pra marcar, ela não ligava pra me lembrar de marcar. Foi bom enquanto durou.

Sem manicure e comendo tudo o que me restava das unhas (e da dignidade), aprendi a me aventurar no shopping. Sempre tive preconceito com salão de shopping, mas aquilo só poderia ser o paraíso. Não precisa marcar hora: é só aparecer. E tem no mínimo umas 30 manicures correndo de um lado para o outro com carrinhos atrás de você, enquanto você fica sentada bem linda em uma poltroninha macia. E nessas, fazendo unha cada semana com um ser humano diferente, você aprende que tem gente que arranca bife e gente que não, gente que pinta certo e gente que não, gente que é rapidinha e gente que não, e o mais interessante: várias formas diferentes de convívio social.

Tem as que fazem a sua unha forçando um papinho tosco com você, tem a que sabe bater um papo legal com você, tem a que se apresenta e depois não abre a boca, tem que a nem se apresenta e tampouco abre a boca, e tem a mais irritante, na minha concepção: a que fica o tempo todo batendo papo com a colega manicure do lado, sobre algum assunto aleatório, e de vez em quando ainda quer colocar a sua opinião no meio. Foi assim que eu conheci a manicure que não deixava a filha cortar o cabelo, e não era nem ela que estava fazendo a minha unha.

Acontece que a moça que estava fazendo a minha estava a horas num papo com essa outra, papo esse que ia desde cliente que roía até unha de gel (?) até estilos de cabelos, e foi aí que ela começou a contar que a filha dela, de uns 15 anos, inventou que queria cortar o cabelo. A mulher estava tão absurdada com a vontade da filha de cortar o cabelo que isso parecia realmente um crime. E nem era questão de religião, era porque ela achava feio mesmo. “Pode pintar, pode alisar, pode tudo o que ela quiser, mas cortar, DEUS ME LIVRE”. A cliente dela perguntou o porquê de tudo isso, mas ela era tão turrona que o único argumento dela era de que cabelo curto era horrível e complementou dizendo que uma vez ela própria havia inventado de cortar e odiado completamente o resultado: “Vai levantar da cadeira do cabeleireiro, chorar, e não vai ter volta, porque não adianta chorar sobre o cabelo cortado, ele não volta de novo para a cabeça”.

Na hora não abri a minha boca: se em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, imagina em briga de mãe e filha. Agora, minha opinião sincera, e que eu espero que chegue a ela por telepatia, é: deixa a menina cortar o cabelo, nega, deixa.

Cortar o cabelo é bacana. Muda o visual. E não gostar do corte faz parte da vida! Já saí chorando algumas vezes da cadeira do cabeleireiro, estou vivinha da silva e ainda acho que é um enorme aprendizado. Não se chora o cabelo cortado porque ele não volta para a cabeça, e quer situação mais apropriada para a gente entender que toda ação tem sua consequência e que nem sempre ela tem volta? De mais a mais, ficando bom ou não, sua filha saindo do salão feliz ou não, cabelo cresce de novo! Vou te dizer mais: Acho que aprender a ser maleável com nosso próprio cabelo é uma grande lição de como enfrentar os próprios medos, ou você acha que minha perna não bambeou quando eu sentei na cadeira, em 2012, e disse: “corta chanel”? Fechei até o olho para não ver o meu cabelo indo para o chão. Quando saí de lá com a cabeça pensado um tanto menos, pensei que me sentiria nua, mas me senti foi leve e quase dona do mundo. É uma ótima experiência.

Phoebe aprova esse post
Monica tem lá suas dúvidas

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sorvete de bolo de aniversário

Ou: Isso não é um publieditorial

Eu amo pizza e eu amo sorvete. Minha irmã não gosta de nenhuma das duas coisas, o que me faz pensar em como on earth nós carregamos a mesma carga genética, mas isso agora não vem ao caso. O fato é que eu amo pizza e eu amo sorvete, mas não sou muito chegada em invenções de moda que envolvam essas duas coisas.

Vejam bem, tem no mínimo uns 10 anos que toda vez que eu peço pizza (coloque aí uma média de uma vez a cada 15 dias) eu escolho calabresa com catupiry porque, entendam, eu sei que isso é maravilhoso, que não tem como dar errado, então ninguém vai me convencer a cogitar outra coisa. Sorvete? Morango e creme/baunilha. Em qualquer sorveteria. Amo sorvete de morango, amo sorvete de creme, a junção dessas duas coisas é sensacional e meu sonho seria o sorvete napolitano vir sem a parte de chocolate.

São poucas as situações nesse mundo (e as pessoas que me conhecem sabem bem disso) que me deixam à vontade para largar meu favoritismo e experimentar alguma outra coisa, por conta própria. E eu juro que isso não é mesmo um publieditorial mas se eles quiserem me presentear com um vale infinito de sorvetes eu não vou reclamar: Abriram uma ColdStone no meu shopping.

Pra quem não faz a menor ideia do que é ColdStone: uma sorveteria  ~diferenciada~ que já tinha em algum outro lugar aqui em Curitiba e da qual eu já tinha ouvido falar um bocado, mas não conhecia de fato ainda. Acontece que ela abriu no shopping que fica no quintal do meu trabalho, por isso entenda shopping no qual eu resolvo tudo o que se precisa de um shopping pra resolver: almoçar de vez em quando, sacar, comprar presentes, olhar roupas novas, comprar uns livros, fazer unha, ir ao cinema e agora, pelo visto, tomar sorvete.

A tal da sorveteria estava para abrir há um século. Eu ia almoçar no shopping e lá estava ela, fechada para obras antes da abertura. No painel externo, 3 casquinhas de sorvete gigantes e uma frase: “pena que não dá para lamber o painel”. E eu SEMPRE, e eu digo SEMPRE, lia aquilo e, mentalmente, endossava: “realmente é uma pena!”.

Duas das três casquinhas da foto pareciam ser exatamente o meu tipo de sorvete. Mas ainda assim eu não sabia como funcionava o negócio, e estava indo pelo visual. Acontece que, dia desses, eu cheguei lá inocentemente para almoçar e a sorveteria estava funcionando. Almocei olhando para lá e sonhando com o minuto em que acabaria aquele macarrão e voaria rumo à minha orgia sorvetística já há tanto tempo aguardada.

Na fila, peguei o cardápio e rapidamente decidi qual casquinha da foto seria a minha: a de morango com caramelo, farofa e mais algumas coisas envolvidas. A outra que parecia ser incrível chamava Birthday Cake Remix e, além de ter brownie dentro do sorvete, o próprio sorvete era sabor massa de bolo. Pensei: Jamé. E fui me divertir com meu Our Strawberry Blonde.

Óbvio que pedi o tamanho médio ao invés do pequeno e mais óbvio ainda que escolhi a casquinha waffle com cobertura de chocolate. Porém, acostumada eu estava com as míseras bolinhas de sorvete que são servidas nas sorveterias comuns e, atentem-se bem para isso, não consegui chegar ao fim do meu sorvete. Era bom. Mas era MUITO sorvete e, ao jogar, chateadamente, um tantinho fora por não conseguir chegar ao fim, decidi que aquela sorveteria não era para comer sobremesa. Era para comer sorvete quando você não tinha comido nada antes e estivesse com muita vontade de encher a barriga com algo não recomendado. Guardei a ideia.

De terça para quarta-feira eu tive um sonho que não lembro direito como era. Só sei que nele eu devorava uma casquinha de, adivinhem, Birthday Cake Remix. Mas gente, eu juro que no sonho eu estava completamente apaixonada por aquilo, como se fosse a melhor coisa que eu já tivesse comido na minha vida. Sorvete sabor massa de bolo! Não era possível, que sonho errado. Mas fiquei com ele na cabeça.

Ontem, quinta-feira, 19h, e eu pensando no que poderia fazer com minha 1 hora de intervalo no trabalho. Resolvi juntar as duas ideias que me martelavam: 1. Tomar um sorvete daqueles em uma hora imprópria e com estômago vazio; 2. Experimentar o tal sorvete de bolo de aniversário e descobrir se era bom como no sonho.

Foi com esse espírito que levantei da minha cadeira e enfrentei o frio lá fora,  sozinha, de noite, para ir até o shopping comer uma casquinha enorme (com cobertura de chocolate!) do tal sorvete de bolo de aniversário e, gente, é bom.

Esqueçamos o fato de que o atendente (que faz MALABARISMO com sua bola de sorvete [e estou falando LITERALMENTE]) teve a pachorra de olhar para minha cara de louca por uma casquinha com cobertura de chocolate e dizer, como se fosse a notícia mais normal do mundo, que só tinha casquinha aos fins de semana. Nunca vi isso na minha vida, juro, e fico magoada só de lembrar que minha gordice não ficou completa devido a essa falha mas, mesmo assim, fiquei realizada por ter sonhado com algo que eu deveria muito experimentar. Não foi como no sonho: faltou a casquinha e o sorvete não é assim a décima maravilha do mundo, mas é a nona, pelo menos. Gente, sorvete de massa de bolo. Isso tem cara de que pode dar errado, mas não dá. Dá muito certo. E agora eu estou lascada na minha vida, pois toda vez que pensar em tomar um sorvete vou imaginar aquele mundo maravilhoso com pedaços de brownie e cobertura e confeitos coloridos e, gente. Não tenho mais palavras para explicar esse sorvete. Vocês vão ter que descobrir por conta própria

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

- Mas mãe, fui eu que peguei o controle!

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva de agosto do Rotaroots 

Que eu me lembre bem, nunca fui uma criança de televisão. Preferia as bonecas, os gibis e o pátio do prédio. Minha frustração, aliás, era a tal da hora do Pokemon, onde todas (e eu disse todas) as crianças subiam do pátio de volta para seu apartamento para assistir o tal do negócio e eu subia também, contrariadíssima por ninguém mais querer brincar. Até tive a fase de achar o Pikachu fofinho, mas para tirar essa conclusão eu me baseava apenas em imagens dele que apareciam em propagandas, adesivos, pacotes de salgadinhos e quem sabe até mochilas. O desenho em si, se eu tentei assistir meia vez já foi muito.

Mesmo assim, tive minhas paixões televisivas infantis e foi pensando nelas que eu resolvi escrever esse post. Talvez nem tanto pelos próprios programas, mas porque lembrar deles me fez pensar na rotina envolvida; daquilo que, há anos atrás, era repetido todo dia sempre igual. E imediatamente me veio gosto de cream-craker na boca. E imediatamente me veio a imagem do copo de Toddy gigante. E imediatamente me veio aquela certeza de saber que o dia seguinte seria exatamente igual: e não havia nenhuma crise em relação a isso.

1. Castelo Ra tim bum
Eu tinha 4 anos e já escutava da minha família: “essa menina parece neta do Sr. Ildeu, faz 20 coisas ao mesmo tempo”. E sempre foi assim mesmo. Sendo a criança elétrica que era e que vivia de canelas roxas, só assistia televisão deitada no sofá quando estava com febre. Fora isso, assistia inventando alguma outra moda. Em relação ao Castelo Ra tim bum me lembro muito de estar desenhando em quanto assistia. Por desenhando entenda uma casa sempre igual, com uma árvore de um lado, um sol do outro, uma chaminé e uma caixa d’água em cima do telhado, sempre na mesma posição. Devo ter feito esse desenho mais de 100 vezes na vida. Intercalava apenas quando resolvia desenhar bonequinhas enfileiradas com roupas diferentes. Me frustrei uma vez quando resolvi desenhá-las em um contexto praiano e desenhei a parte de cima do biquíni colada no pescoço. Minha mãe disse que pareciam binóculos. Desisti da carreira de estilista antes mesmo de pensar no caso, portanto. Mas isso não importa. O que importa é que se eu tive um verdadeiro amor televisivo na vida, esse amor foi (e é) Castelo Ra Tim Bum. E um episódio sem enquanto isso no lustre do castelo era um episódio perdido: ficava profundamente chateada quando Lana, Lara e seu mundo brilhante não apareciam. Incluo na categoria dessa fase da infância: X Tudo (minha parte preferida era a dele ensinando a cozinhar!) e No mundo da Lua (Lucas Silva e Silva, gente! Uma vez o pai dele disse “não é todo dia que se faz 10 anos” e eu, como boa criança filósofa que era, queimei miolos pensando “mas ué, nunca se faz uma idade todos os dias”. Sim. Eu era dessas.).

2. Hey Arnold!
Mudamos para São Paulo e com a mudança veio a tal da tv a cabo. Descobrimos o Cartoon Network e passamos a viver disso, afinal, era novidade. Com essas, aprendi a amar Laboratório de Dexter e tentar assistir Meninas Super Poderosas só porque elas eram fofas. Nunca consegui gostar do desenho. De manhã, passava O Pequeno Scooby Doo ou algo do tipo. Não lembro direito do título, mas era a turma do Scooby Doo criança e eu, que nunca gostei do desenho oficial do Skooby Doo, gostava bastante desse. Além disso, pensando, nos dias de hoje, metaforicamente, é um baita ensino o fato dos Monstros sempre serem pessoas, não? Na época eu não acreditava como eles caiam TODA santa vez no conto do monstro até que ele se revelasse. Mas essa é a mais pura realidade da vida, não? Antes desse, passava outro que eu não lembro direito o nome, mas era como uma Olimpíada com personagens. Não era a corrida maluca, mas tinha personagens de lá também. Eu SEMPRE amei competições/gincanas, então absolutamente amava esse desenho. Assistia durante o toddy da manhã: se tudo tivesse dado certo, no melhor lugar do sofá. Se a Helena tivesse acordado antes, no lugar reserva. Era triste. Quando, de tarde, chegávamos da escola, assistíamos Chaves tomando o toddy da tarde, antes do banho. De noite, na hora da janta, passava Johnny Bravo às 20h e Laboratório de Dexter às 21h. Lembrar disso chega me dar o gosto do miojo de tomate na boca (miojo de tomate este que jamais falta em meu armário até hoje). Mas falei, falei, falei e não citei o título do tópico. Demoramos um pouco mais para descobrir a Nickelodeon. Eu, quando descobri, fiquei encantada: existia outro canal para crianças. Minha irmã, apegada às raízes, não queria saber de outra coisa que não fosse o Cartoon. Acontece que eu fui pesquisar e comecei a gostar justamente de Hey Arnold. Qual era o problema? Ele passava exatamente no horário do Johnny Bravo, modisque ficou decidido que era um dia o Johnny, um dia o Arnold (~le mãe fazendo o possível para agradar gregas e troianas). Tudo o que é difícil é mais gostoso, e talvez seja por isso que eu tenha me apegado tanto ao Arnold. Só de pensar escuto “Se manda, seu cabeça de bigorna”, quase morri de alegria quando descobri que tem no netflix, e foi com esse desenho que eu aprendi também a diferença entre gostar de alguém ou gostar gostar de alguém. E, vocês sabem, isso faz toda a diferença.

3. Carinha de Anjo
É claro que as novelinhas para crianças do SBT não poderiam ficar de fora. Assisti partes de Chiquititas, ainda em Vitória, porque minha melhor amiga amava, ela falava sobre o assunto e eu me forcei a ver porque precisava saber conversar. Lembro do dia que decidi começar a assistir: liguei a televisão, sentada no sofá, me forçando a prestar atenção enquanto na realidade, pensava “meu Deus, estou vendo novela, e estou gostando, como sou adulta!”. Não estava gostando, mas acabei aprendendo a gostar. Assisti também Luz Clarita, Diário de Daniela e, gente, Carinha de Anjo. A melhor de todas. A menina chamava Dulce Maria, morava num internato, usava boina pink, a cachorrinha falava, a tia usava uma peruca diferente cada dia para combinar com a roupa, e ao invés de responder “sim”, ela sempre respondia “simpirilim”. Não tinha como ser mais perfeito que isso e achei no netflix e quando lembro assisto um capítulo. Achava que essa novela era eterna quando lembrava dela, mas na realidade ela só tem uns 120 capítulos. 120 capítulos de pura devoção infantil: acho que essa foi a primeira novela que me fez perder noites de sono com o coração apertado, pensando se o casal conseguiria ficar junto no final. Depois que aprendi, foi ladeira a baixo.

4. Kenan e Kel
Daí que depois do Hey Arnold mudávamos para o Cartoon de novo para assistir o Dexter e, por causa disso, não consigo me lembrar como foi que descobrimos Kenan e Kel na ordem da vida. E ainda mais: não me lembro como descobrimos que era bom, porque meu eu de 8/9 anos de idade jamais pararia a televisão num canal com dois moços whatever. Acontece que paramos. E de repente estávamos eu, Helena e mamãe chorando de rir daqueles dois pirados. O primeiro episódio que assistimos foi o que o Kel procura um tratamento de hipnose para se curar do vício em refrigerante de laranja e acaba pensando que é um cachorro porque o Kenan trocou os prontuários. Costumávamos ir para cama às 22h, mas depois que descobrimos Kenan e Kel, combinamos com mamãe que passaríamos a ir dormir às 22h30, e aposto que isso só deu certo porque ELA gostou de Kenan e Kel também. #parcialidades #abusodepoder

Engraçado. Fiz toda uma introdução para dizer que não era uma criança de televisão e de repente listei mil programações. Mesmo assim, como eu disse, assistia a todas essas coisas enquanto desenhava, montava lego, lia gibis, amamentava uma boneca ou outra (sim) e coisa e tal. O meme dizia para listar 5, mas como eu não tenho limites, falei de vários em cada um dos tópicos e vou terminar a contagem no 4 mesmo, não sem antes deixar bem claro que tive uma infância recheada de Disney e que me orgulho de ter visto a quase todos, modisque fico deveras surpresa quando encontro amigas (corto o meu pescoço mas não digo quem é) que nunca assistiram a Bela  e a Fera, por exemplo. Meus pais, minha tia e meus avós adoravam nos dar VHS de presente e nós tínhamos milhões delas e eu tenho certeza que minha vida seria muito incompleta se eu não tivesse chorado tantas vezes vendo Dumbo ou Rei Leão, ou rido tantas outras vezes com Mulan e Monstros S.A. Obrigada, Walt Disney. 

Passarinho, que som é esse? 

sábado, 2 de agosto de 2014

1. O livreiro apaixonado

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

Eu já cheguei a mencionar esse moço antes, em um post que fala sobre escritores. Mas depois da minha mais recente ideia fiquei cavando a mente em busca de personagens e não demorou para que eu lembrasse dele. Lembrei de mais uns tantos que poderiam render algo e estou ansiosa pra escrever mais,  mas resolvi começar com ele mesmo.

Já falei também, algumas vezes, sobre como eu fico encantada com a paixão das pessoas. Cada paixão com seu foco, todas dignas de nota. E com esse cara não foi diferente. Ele tinha aquele olhar de quem é apaixonado por muitas coisas: apaixonado pela vida, por exemplo e apaixonado pela paixão, inclusive. Sobretudo, ele era apaixonado por livros. E uso o verbo no passado só porque esse encontro se deu há uns 2 janeiros. Espero que ele ainda use tudo isso no presente.

Eu estava passando uma semana na casa da minha amiga em São Paulo, para aproveitar um pouco as férias de janeiro. Aproveitar as férias, na nossa língua, means passar horas conversando, jogando Perfil, jogando Mario Party, tudo isso de pijamas e, por ventura, ler um pouco e, pelo menos uma vez, entrarmos juntas na livraria sem medo de cometermos um estrago.

Nosso sonho é uma de nós ganhar na loteria para podermos abrir uma filial da Livraria Cultura juntas, e nosso lema seria: “Se sobrar nóis vende”. É. Mas isso não é sobre nós, é sobre o livreiro. Encontramos com ele na Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos.

Entramos animadas, depois de um dia anterior frustrado: tínhamos ido até o shopping e a livraria deu com a porta na nossa cara: era dia de organização de estantes e estoque e sim, isso aparentemente existe. Adicionando 24 horas à nossa espera para a orgia literária em uma das livrarias mais deliciosas de todas, entramos devagar naquele ambiente, sentindo aquele cheiro de livros.

Ela, mais habitué que eu naquele ambiente específico, me puxou pelo braço e me levou para frente de uma estante onde ficam aqueles livros em edições de ouro. Manjam aquelas edições originais, com um milhão de páginas, capas duras, folhas fininhas com lateral dourada? Então, essas aí. E era uma estante comprida e relativamente estreita, mas era cheinha dessas edições. Ela então me disse, com os olhos brilhando: – Amiga, bem vinda à estante dos sonhos.

Foi aí que ele apareceu. Dois segundos depois de estarmos petrificadas com caras completamente abobadas na frente da estante uma voz masculina repetiu exatamente o que ela tinha dito, nos tirando do transe momentâneo: “A estante dos sonhos de todos nós”, e riu. Riu e saiu pegando os livros e falando deles enquanto nós olhávamos sem piscar para aquele moço que tinha brotado do nada para nos convencer ainda mais de que a obra completa da Jane Austen em folhas douradas era um excelente negócio. O moço falava tão apaixonadamente da coisa que eu, mesmo sem gostar de ler inglês, fiquei a 2 passos de sair daquela livraria levando a coletânea da Jane, um combo de contos de fadas e Moby Dick. Só de lembrar fico pensando em como conseguir me manter firme e colocar tudo de volta na estante e procurar algo que eu realmente fosse ler, e não só olhar e babar.

Vire mexe quando estou em alguma outra livraria Cultura, frente a frente com a estante dessas edições, eu pego alguma na mão, faço carinho na capa, decido que algum dia na vida eu compro e lembro do moço. Poucas pessoas tem a chance de trabalhar com o que tanto amam e tão perto do próprio ouro – ainda que tão longe de uma mina.

bp